Gabriel Monteiro durante audiência na Câmara dos vereadores, no Centro do Rio de Janeiro, nesta quinta (18)Sandro Vox/Agência O Dia

Rio - As primeiras três horas de sessão na Câmara do Rio, iniciada às 16h desta quinta-feira (18), foram marcadas por clima hostil entre apoiadores de Gabriel Monteiro (PL), manifestantes e vereadores presentes. Por vários momentos as falas dos parlamentares, que têm 15 minutos para discursar sobre o relatório, foram interrompidas até que os gritos fossem cessados. Por conta disso, a votação se encontra atrasada.
O presidente da Câmara Municipal, Carlo Caiado (sem partido), também precisou intervir e ameaçou retirar as pessoas que não respeitassem o pedido de silêncio. "Eu peço que a segurança possa identificar quem não estiver respeitando. Que esses possam ser retirados", disse Caiado.
Enquanto isso, Gabriel permaneceu quase sempre de cabeça baixa ou em pé, isolado dos demais vereadores. O parlamentar, ainda prestes a perder seu mandato, parecia evitar os olhares de manifestantes favoráveis à cassação. Foram poucos os momentos em que o ex-PM levantou a cabeça, sempre voltado aos seus apoiadores na galeria.

O vereador Chico Alencar (Psol), relator do processo que investigou Gabriel Monteiro no Conselho de Ética da Câmara, iniciou com a leitura do relatório final, que pede a cassação do mandato. Durante a leitura, apoiadores do ex-PM o vaiaram.

Em seguida, os vereadores puderam discutir o documento por 15 minutos cada um. O primeiro a falar foi Alexandre Isquierdo (União Brasil), membro do Conselho de Ética da Câmara. "Conduzimos esse processo com total imparcialidade de forma serena. A bússola do nosso trabalho era pela justiça, que coube ao conselho de Ética. Nunca antes, nessa casa, teve de se decidir pela cassação de um dos nossos vereadores", pontuou.
A fala do vereador terminou com uma avaliação sobre o momento atual da Câmara, que cassou no ano passado o vereador Dr. Jairinho, acusado pela morte do enteado, Henry Borel, de 4 anos, e agora cassa outro parlamentar.

Logo em seguida, durante a fala da  vereadora Laura Carneiro, o vereador Lúcio Mauro (PSL), do município de Queimados, iniciou uma grande confusão no plenário, que paralisou a sessão por cerca de dois minutos. Ele foi retirado pelos seguranças do plenário, mas retornou em seguida, sentando próximo a Gabriel Monteiro.
Em um outro momento, durante a fala da vereadora Tainá de Paula (PT), uma mulher com duas crianças, que está do lado dos apoiadores de Monteiro, discutiu com os manifestantes. Ela defendia o parlamentar e tentava atrapalhar a fala de Tainá.
O vereador Felipe Michel (Progressistas) iniciou sua fala vaiado por dar a entender uma possível defesa ao ex-PM, mas terminou dizendo que votaria a favor da sua cassação. No início da fala, Michel, que faz parte da ala de direita da Câmara, chegou a dizer: "Quem nunca errou que atire a primeira pedra".

Mas encerrou sua fala mencionando que seria favorável ao relatório da Comissão de Ética pela cassação de Monteiro. Ainda durante o seu pronunciamento, ele citou que sua filha foi vítima de uma tentativa de estupro, crime pelo qual Gabriel Monteiro foi denunciado.

"Foi um dos momentos mais difíceis que passei na minha vida. Imagina você, como pai, descobrir que a sua filha na faculdade, com colegas de turma dela, foi vítima de uma tentativa de estupro. Eu que sou vereador, perceber que não tenho poder para fazer nada nessa situação... Por tudo que vi até aqui, pelas duas filhas que tenho em casa, por tudo que passei. Até aqui, é uma situação insustentável. Com isso, é impossível eu votar contra o relatório do Conselho de Ética", disse.

A fala foi aplaudida, mas, na sequência, o parlamentar voltou a ser vaiado por elogiar a atuação do vereador na Câmara. "Você foi um bem para a Câmara", mencionou.

"Lá fora, o Gabriel chegou e perguntou: "posso contar contigo?". Eu disse na hora: "não". Eu fico triste de ver o Gabriel nessa situação. Ele cometeu um erro e esse erro pode custar muito caro para ele hoje", finalizou. A conclusão do vereador provocou a revolta dos manifestantes que gritavam "não foi erro, foi crime".
A vereadora Mônica Benício (Psol) também teve sua fala interrompida por gritos de "vergonha" vindos da galeria onde estavam os apoiadores de Monteiro. Em resposta, ela disse: "Vergonha é o que essa casa fará se não decidir pela cassação do mandato do vereador", criticou.
O advogado de Gabriel Monteiro, Sandro Figueiredo, começou a discursar por volta das 20h. Ele tem até duas horas para falar. Ao fim da sua fala, a votação pela cassação ou não do mandato terá início. 
A defesa do vereador defendeu em toda a sua alegação que Gabriel Monteiro era vítima de um conluio formado pela intitulada "Máfia do Reboque". "O vereador Gabriel Monteiro rejeitou uma vantagem de vida. Não se curvou ao desejo dos malfeitores, negou a oferta devida e por causa disso está passando pelo que está passando. Tudo aconteceu depois que ele rejeitou essa quantia".