Motorista transportava caminhão de empresa estrangeira na Avenida Brasil, altura do Complexo da Maré, quando foi baleado e mortoReginaldo Pimenta/Agência O DIA

Rio - Assaltos, ataques a tiros, gestante baleada. Durante o mês de outubro, não faltaram motivos para que os moradores da Zona Norte do Rio de Janeiro se sentissem inseguros. A região, que somou 110 tiroteios no mês, foi a mais afetada pela violência armada, como revela o relatório mensal do Instituto Fogo Cruzado.
Há nove meses seguidos a Zona Norte tem sido a região do Grande Rio com mais tiroteios. Somente em outubro, a região concentrou 42% do total de tiroteios ocorridos em toda a região metropolitana. No dia 5, a atriz Eliane Lorett de Campos, de 58 anos, foi morta a tiros durante uma tentativa de roubo do carro em que estava, em Marechal Hermes. A ação durou seis segundos. Eliane ainda dirigiu com o carro até bater em um poste e ser levada para um hospital na Zona Norte, mas morreu pouco antes de ser operada. Ao todo, houve 13 roubos/tentativas de roubo que terminaram em tiros na Zona Norte. Sete pessoas foram mortas e três ficaram feridas durante estes casos.

No dia 12, a van que transportava a equipe do funkeiro Gabriel Florêncio Peixoto, o Biel do Furduncinho, foi atacada a tiros na Rua Ururaí, no bairro de Honório Gurgel. O intérprete do hit "Ai preto" voltava de um show na Barra da Tijuca com a equipe e havia acabado de sair com um carro particular quando um homem em um táxi, acompanhado de outro indivíduo e duas mulheres, teria disparado 10 tiros contra o veículo.

No dia 14, dois turistas italianos foram baleados ao entrarem por engano no Complexo da Maré. As vítimas, que foram atingidas na costela e no braço esquerdo, voltavam de uma festa com mais três amigos italianos e foram abastecer o veículo na Avenida Brasil quando acabaram entrando na favela por orientação do GPS.

Dois dias depois, uma adolescente de 17 anos que estava grávida foi baleada na barriga enquanto caminhava com o seu companheiro em Manguinhos. Na ocasião, uma ação policial de rotina terminou em tiroteio. Ao todo, houve 36 tiroteios durante ações policiais na Zona Norte, que provocaram a morte de nove pessoas e deixaram outras 20 feridas.

Para Maria Isabel Couto, diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado, esses casos revelam a rotina de medo com a qual moradores da Zona Norte estão há anos familiarizados. "Vemos diariamente casos de pessoas perdendo a vida em assaltos, em ações policiais e em ataques a tiros. Isso tem sido um problema constante para os moradores da Zona Norte e não pode ser assim. O Rio de Janeiro carece de política pública de segurança voltada para a preservação da vida e baseada em dados. Esse é o caminho para que a população deixe de ser refém da violência armada", afirma.

O mês em dados

Durante o mês de outubro, houve 262 tiroteios/disparos de arma de fogo na Região Metropolitana do Rio, segundo relatório mensal do Instituto Fogo Cruzado. O número de tiroteios foi 22% menor que o registrado no mesmo período do ano passado, quando houve 338 tiroteios.

Dos 262 registros de outubro, 98 deles (37%) ocorreram durante ações/operações policiais. Em outras palavras, é como se, em média a cada três tiroteios ocorridos no Grande Rio, um fosse durante ações ou operações policiais. Em outubro de 2021, dos 338 tiroteios registrados, 125 deles (37%) foram em ações ou operações policiais. Apesar da queda dos tiroteios em geral, a participação policial nos tiroteios se manteve estável.

Ao todo, 156 pessoas foram baleadas na região metropolitana em outubro, sendo 76 mortas e 80 feridas. Comparado com outubro de 2021, que teve 255 baleados, sendo 83 mortos e 172 feridos, em outubro houve queda de 8% nos mortos e de 53% entre os feridos.

Houve queda de 3% nos tiroteios, de 12% entre os mortos e de 9% entre os feridos em comparação com setembro, que concentrou 271 tiroteios, 68 mortos e 88 feridos.

Entre as datas mais afetadas pela violência armada em outubro, os dias 3, 5 e 6 concentraram o maior número de tiroteios, com 13 registros cada. O dia 13 concentrou o maior número de mortos com 11 vítimas, e o dia 3 concentrou o maior número de feridos, com 10 atingidos.

O mapa da violência

Entre os municípios que fazem parte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, os cinco mais afetados pela violência armada foram:

Rio de Janeiro: 154 tiroteios, 33 mortos e 39 feridos
São Gonçalo: 21 tiroteios, 14 mortos e 6 feridos
São João de Meriti: 17 tiroteios, 6 mortos e 5 feridos
Niterói: 14 tiroteios, 9 mortos e 4 feridos
Duque de Caxias: 14 tiroteios, 5 mortos e 5 feridos
Nova Iguaçu: 14 tiroteios, 3 mortos e 7 feridos

Entre os bairros do Grande Rio, os mais afetados foram:

Brás de Pina (Rio de Janeiro): 7 tiroteios e 2 mortos
Costa Barros (Rio de Janeiro): 6 tiroteios, 3 mortos e 9 feridos
Anchieta (Rio de Janeiro): 6 tiroteios e 1 ferido
Tanque (Rio de Janeiro): 5 tiroteios, 1 morto e 1 ferido
Praça Seca (Rio de Janeiro): 5 tiroteios
Cascadura (Rio de Janeiro): 5 tiroteios

Dos 262 tiroteios ocorridos na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, 16 deles foram em áreas de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Ao todo, seis pessoas foram baleadas nessas áreas: três morreram e três ficaram feridas. As áreas mais afetadas pela violência armada foram:

Complexo de Manguinhos: 5 tiroteios, 1 morto e 1 ferido
Complexo da Penha: 3 tiroteios
Prazeres: 2 tiroteios. 1 morto e 1 ferido
Turano: 2 tiroteios
Andaraí: 1 tiroteio e 1 morto
Rocinha: 1 tiroteio e 1 ferido
Complexo do Alemão: 1 tiroteio
Macacos: 1 tiroteio

A distribuição da violência armada entre as seis regiões que compõem o Grande Rio se deu da seguinte forma:

Zona Norte: 110 tiroteios, 22 mortos e 29 feridos
Baixada Fluminense: 66 tiroteios, 19 mortos e 25 feridos
Leste Metropolitano: 42 tiroteios, 24 mortos e 16 feridos
Zona Oeste: 30 tiroteios, 7 mortos e 6 feridos
Centro: 9 tiroteios, 2 mortos e 2 feridos
Zona Sul: 5 tiroteios, 2 morto e 2 feridos
O perfil da violência armada

Houve 31 casos de roubos ou tentativas de roubo que terminaram em tiros no Grande Rio. Ao todo, 26 pessoas foram baleadas nestes casos: 18 morreram e oito ficaram feridas. Em outubro de 2021 também houve 17 casos de roubos e tentativas que deixaram 18 baleados no total (nove mortos e nove feridos).

11 agentes de segurança foram baleados na Região Metropolitana do Rio em outubro: sete morreram (dois em serviço, quatro fora de serviço e um era aposentado/exonerado) e quatro ficaram feridos (todos fora de serviço). Em outubro de 2021 foram 20 agentes de segurança baleados: 10 morreram (dois em serviço e oito fora de serviço) e 10 ficaram feridos (oito em serviço e dois fora de serviço).

Cinco pessoas foram vítimas de balas perdidas no Grande Rio em outubro: uma morreu e quatro ficaram feridas. Entre as vítimas, quatro foram atingidas durante ações/operações policiais. Em outubro de 2021, houve sete vítimas de balas perdidas: uma morreu e seis ficaram feridas. Entre as sete vítimas, seis foram atingidas durante ações ou operações policiais.

Duas chacinas ocorreram na Região Metropolitana do Rio em outubro, provocando a morte de 10 civis. Todos os casos ocorreram durante ação ou operação policial. Em outubro de 2021, houve cinco chacinas que deixaram 16 mortos no total. Duas dessas chacinas ocorreram durante ações ou operações.

Três adolescentes e três idosos foram baleados no Grande Rio em outubro: destes, dois adolescentes e dois idosos morreram. Em 2021, no mesmo período, foram quatro crianças, três adolescentes e um idoso baleados, dos quais uma criança, um adolescente e um idoso morreram.

Acumulado do ano

Entre janeiro e outubro, houve 3.049 tiroteios/disparos de arma de fogo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado. 1.006 destes registros ocorreram durante ações/operações policiais. Ao todo, 1.652 pessoas foram baleadas nestes 10 meses, das quais 824 foram mortas e 828 ficaram feridas. Comparado ao mesmo período de 2021, que concentrou 4.123 tiroteios, sendo 1.188 em ações/operações policiais, e 1.797 pessoas baleadas, sendo 928 mortos e 869 feridos, neste ano houve queda de 26% nos tiroteios em geral, queda de 15% nos tiroteios durante ações/operações policiais, queda de 11% nos mortos e de 5% nos feridos.