Rivaldo Coelho, pai de Renan Souza de Lemos, de 24 anos, morto durante operação no Complexo da MaréPedro Ivo/Agência O DIA

Rio - "Meu filho era trabalhador, homem correto e honesto". O desabafo é do motorista Rivaldo Coelho, pai de Renan Souza de Lemos, de 24 anos, morto durante uma operação no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. Rivaldo esteve no Instituto Médico Legal (IML), nesta sexta-feira (25), para tratar da liberação do corpo do filho e informou que o jovem não tinha envolvimento com o tráfico local, alegando ainda que ele trabalhava com entregas e como motorista de aplicativo.

"Ele foi vítima de uma covardia e do poder público despreparado. Eu vi as duas perfurações, eu ia trabalhar e não tive como. Quando ele foi baleado, havia uma blitz na Maré e ele estava na casa de uma das namoradas, porque era meio levado, aí a namorada falou que estava tendo operação, aí ele subiu pra laje, só que ele não contava que a operação estava lá. Ele se rendeu e tomou dois tiros na lateral. Falaram que ele estava com arma, e não tinha nada disso. Meu filho era um homem correto, honesto, ele trabalhava com a mãe dele fazendo entrega e quando não tinha entrega ele fazia rodava como motorista de aplicativo, se ele fosse bandido eu diria", disse.

O pai de Renan completa 73 anos neste sábado (25). Ele contou que o filho pretendia comemorar o aniversário com um jantar. O jovem ainda deixa dois filhos, uma menina de 6 anos e um menino de 7 meses. Ainda de acordo com Rivaldo, o filho nasceu e foi criado na Ilha do Governador, na Zona Norte, mas se mudou para o Complexo da Maré há cerca de oito anos para ficar próximo da avó.

"Eu nunca quis que ele morasse lá. Quando você mora numa comunidade, geralmente ocorrem situações dessa com a polícia, que generaliza todos que moram ali. Você acaba pagando essa situação com a vida. Ele era agarrado com a avó e a tia e por isso ficava lá. Ele tinha comprado recentemente uma casa de três andares, estava pagando essa casa ainda, por isso deixamos ele ficar lá. Até a mãe dele também alugou uma residência para ficar mais próxima dele e deixou a Ilha", relatou.

O pai da vítima acrescentou ainda que o filho era uma pessoa muito amorosa. "Meu filho era muito amoroso, trabalhador, não se cansava de dizer que me amava e o xodó dele era a mãe. Ele era que nem eu, trabalhador e guerreiro", finalizou.

Ainda não há informações sobre o enterro.

Manifestação

Desde o início da manhã desta sexta (25) moradores tentam realizar manifestação na Avenida Brasil, a principal via da cidade, para protestar contra a violência das operações nas favelas. Pedaços de madeira, colchões, pneus e outros objetos chegaram a ser queimados no meio da rua mais de uma vez. Em todas as tentativas, policiais militares que estavam no local dispersaram rapidamente os manifestantes.

De acordo com o Centro de Operações Rio, por volta das 13, a pista central e lateral foram bloqueadas no sentido Zona Oeste, mas foram liberadas cerca de 1h depois. Motoristas devem ficar atentos ao passar pela região.


Nas redes sociais, moradores divulgaram os momentos de tensão na comunidade e relataram intensa troca de tiros na região. Nas imagens publicadas aparecem pessoas jogando lixo, madeira, e até tinta em um caveirão da PM, além de carros metralhados.


Unidade de saúde fechada

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a Clínica da Família (CF) Jeremias Moraes da Silva, localizada na região do Complexo da Maré, acionou o protocolo de acesso mais seguro e, para segurança de profissionais e usuários, interrompeu o funcionamento na manhã desta sexta-feira (25).
Alunos de 40 escolas da região estão sem aulas

Devido a operação, alunos que estudam próximo às comunidades não puderam comparecer às escolas. A Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que prioriza garantir a segurança da comunidade escolar e a medida de suspensão das aulas tem como objetivo proteger alunos, professores e funcionários das instituições de ensino. De acordo com a pasta, 40 escolas da região do Complexo da Maré precisaram ser fechadas e prestam atendimento remoto aos alunos. Ainda segundo a SME, sempre que há uma situação de risco o protocolo de acesso mais seguro é acionado.

Apreensão

De acordo com a Polícia Militar, agentes das duas unidades estão nas ruas das regiões da Nova Holanda e do Parque União, pertencentes ao conjunto da Maré, para coibir movimentações criminosas relacionadas a roubo de carga e roubo de veículos. Uma equipe do Batalhão de Operações com Cães (BAC) recuperou veículos roubados e apreendeu uma tonelada de drogas, um fuzil, uma pistola, um revólver e duas granadas durante a operação.

Além disso, no início da tarde o BAC realizou mais uma grande apreensão de drogas no Complexo da Maré. A quantidade ainda será contabilizada.