Rio - A morte de Rui Paulo Gonçalves Estevão, conhecido como Pipito, pode ser considerada um baque para a hierarquia da milícia comandada por Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho. O grupo criminoso é conhecido pelo controle sobre algumas regiões da Zona Oeste do Rio. No entanto, a morte de Pipito, no final da tarde desta sexta-feira (7), não foi a primeira perda. Desde dezembro de 2023, mês em que Zinho se entregou à Polícia Federal, outros criminosos apontados como sucessores do miliciano também morreram.
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Na mesma semana da prisão de Zinho, Antônio Carlos dos Santos Pinto, o Pit, 46 anos, foi morto a tiros dentro de um carro na comunidade Três Pontes, em Paciência, Zona Oeste. De acordo com informações da época, o comparsa de Pit, o Leonel Patrício de Moura, teria sido sequestrado e torturado por um grupo rival no momento em que iria encontrar o miliciano de 46 anos. Os criminosos teriam obrigado Leonel a levá-los ao local em que Pit estava. Em seguida, o grupo assassinou os dois. O filho de Pit, de apenas 9 anos, foi baleado e morreu horas depois do crime.
A Polícia Civil aponta que Pit era o quarto sucessor na hierarquia da milícia de Zinho. Ele era um dos responsáveis pelas finanças do grupo e chegou a ser preso em maio de 2019. Pit passou mais de quatro anos na prisão e, em setembro de 2023, ficou em liberdade.
Disputas territoriais
A prisão de Zinho fez com que seu grupo se dividisse em algumas lideranças. Uma parte da milícia teria sido assumida por Jairo Batista Freire, o Caveira. Apontado como um dos mais violentos do grupo de Zinho, o miliciano seria o responsável pelo braço operacional da quadrilha. No entanto, no início de janeiro deste ano, informações sobre a sua morte começaram a circular nas redes sociais. Relatos apontam que Caveira também foi assassinado na comunidade Três Pontes, em Paciência, pelo grupo de Pipito, que o culpava pela morte de Pit. A Polícia Civil abriu uma investigação sobre o homicídio, mas o corpo dele não foi encontrado.
Dois anos antes, em janeiro de 2022, Caveira foi preso durante uma ação da Delegacia de Repressão as Ações Criminosas Organizadas (Draco) e da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra Propriedade Imaterial (DRCPIM), em Seropédica, na Baixada Fluminense. Ele estava solto desde outubro de 2023.
Outro local que se dividiu pela disputa por comando na Zona Oeste após Zinho se entregar foi Sepetiba. Um dos líderes da milícia que atua no bairro também foi assassinado em janeiro deste ano. Sergio Rodrigues da Costa Silva, 44, conhecido como Sergio Bomba, estava em um quiosque na Avenida Lúcio Costa, na altura do Posto 12, no Recreio, quando uma pessoa chegou fazendo disparos contra ele, que não resistiu aos ferimentos e morreu ainda no local. Assim como a morte de Caveira, o homicídio de Sérgio foi atrelado como responsabilidade de Pipito.
Sergio já havia sido preso em 2016, por chefiar o grupo paramilitar que atuava na cobrança de taxas ilegais de moradores e comerciantes, grilagem de terras, além de roubo e clonagem de veículos em Sepetiba. Em 2017, ele foi alvo da operação Horus, contra milicianos da região, e um novo mandado de prisão foi cumprido contra ele, dentro do presídio, de onde continuava controlando a organização criminosa.
Além das mortes, a sucessão na milícia de Zinho também sofreu com uma importante prisão. Em fevereiro deste ano, Peterson Luiz de Almeida, o Pet, foi detido por policiais da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap). O miliciano era considerado foragido desde outubro do ano passado, quando houve um erro de comunicação entre a Seap e o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), resultando na saída do criminoso pela porta da frente do Presídio José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte.
Considerado uma das principais lideranças da milícia comandada por Zinho, Pet tem atuação nos bairros de Sepetiba e Nova Sepetiba. Ele foi denunciado pelos crimes de milícia privada e porte e/ou posse ilegal de arma de fogo e estaria diretamente envolvido nas recentes disputas armadas por territórios entre os grupos atuantes na Zona Oeste do Rio.
Morte de Pipito
Tido como "zero 2" na hierarquia da milícia, Rui Paulo Gonçalves Estevão morreu no fim da tarde desta sexta-feira (7) após ser baleado em um confronto com policiais civis na comunidade do Rodo, em Santa Cruz. Um vídeo mostra o corpo dele sendo retirado de uma viatura já imóvel e colocado em uma maca no Hospital Municipal Rocha Faria, em Campo Grande.
Miliciano Pipito, baleado em confronto em Santa Cruz, chegou já morto no Hospital Municipal Rocha Faria
De acordo com a Polícia Civil, equipes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizada e Inquéritos Especiais (Draco), com apoio da Subsecretaria de Inteligência (Ssinte), abordaram o foragido durante uma ação na comunidade. Pipito teria reagido, dando início a um confronto com os policiais. Além dele, dois suspeitos de atuar como "seguranças" da milícia ficaram feridos. Os três foram encaminhados para o Rocha Faria, mas Rui Paulo morreu a caminho da unidade.
Segundo o delegado William Rodrigues, assistente da Draco, o alvo era investigado há muito tempo. O foragido trocava de carros frequentemente, o que atrapalhou as investigações. No entanto, o cerco foi realizado, com resistência por parte do miliciano, que contava com dois seguranças.
"A Draco monitorava esse elemento há muito tempo. O Pipito era um alvo prioritário da Polícia Civil. Ontem (sexta), conseguimos monitorar os veículos que ele se deslocava, três carros. Ele trocava de carro constantemente. Conseguimos localizar a casa onde ele se escondia a partir do último carro que ele utilizou. Nesse momento, decidimos fazer um cerco a esse imóvel. Logo de cara, dois dos seus seguranças foram presos, na porta. Já que o local é cercado, ele resistiu à prisão. Nos apresentamos como policiais e houve troca de tiro. Ele foi baleado no terraço e pulou pro terreno vizinho, até ser capturado pelas equipes", contou.
O delegado ainda falou sobre o histórico do bandido. "Pipito é um marginal que está na milícia mais ou menos desde 2017 e foi crescendo na hierarquia, em confiança com os antigos líderes, desde o Carlinhos Três Pontes, passando pelo Ecko, até o Zinho. Ele se aproximou de vez do Zinho com a morte do Faustão, que era sobrinho. O Pipito foi responsável por executar aquela ordem de queimar 35 ônibus na Zona Oeste quando o Faustão morreu. Matou inúmeras pessoas, possíveis sucessores, era um cara extremamente perigoso, violento. Tirá-lo de circulação representa um grande ganho para a sociedade e um grande baque para a milícia", lembrou.
Agora, a Polícia Civil investiga novos suspeitos de assumirem a sucessão da milícia. "Nós conseguimos desarticular a milícia naquela região e agora partimos na investigação de eventuais sucessores. Estamos investigando quem seriam as possíveis sucessões, mas ainda não temos dados nesse sentido", explicou Rodrigues.
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