Cirurgiões-dentistas e bucomaxilofaciais garantem a higiene bucal diária dos pacientes internados no Heat e no Cáffaro, unidades estaduaisDivulgação / Alex Alves

SÃO GONÇALO - Estudos científicos alertam que a boca é a principal porta de entrada de muitas infecções respiratórias em pacientes dos Centros de Tratamento Intensivo (CTIs). Para garantir um atendimento ainda mais humanizado e evitar novas complicações, que possam aumentar o tempo de internação, os hospitais estaduais Alberto Torres (Heat), em São Gonçalo, e João Batista Cáffaro, em Itaboraí, contam com uma equipe de odontologia intensiva. Cirurgiões-dentistas e bucomaxilofaciais garantem a higiene bucal diária dos pacientes internados nas unidades. 

Somente nos últimos seis meses nessas unidades, ocorreram 14.777 atendimentos do tipo no público dos CTIs adulto e pediátrico. As salas vermelha e amarela dos hospitais receberam atendimento desses profissionais. De acordo com o coordenador do Serviço de Odontologia, Dr. William Chaia, a higiene bucal previne pneumonia nosocomial e outras infecções respiratórias. "Nosso trabalho, junto com toda a equipe multiprofissional, é olhar o paciente como um todo e ajudar no controle de infecções ao aplicar um conjunto de práticas para o bem-estar e a qualidade de vida do paciente".

Todos os dias, os profissionais percorrem os 115 leitos de tratamento intensivo dos Hospitais Alberto Torres e João Batista Cáffaro. Junto à equipe de enfermagem, responsável pela execução do procedimento, médicos, assistentes sociais e fisioterapeutas buscam informações prévias de cada paciente. O Serviço de Odontologia e Cirurgia Bucomaxilofacial passou por adequações para manter o serviço funcionando durante a pandemia.
O Pronto-Socorro Municipal de São Gonçalo foi o primeiro a instalar o serviço.

No ano passado, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) garantiram que a falta de higiene bucal poderia potencializar os efeitos da Covid-19 no organismo, uma vez que é grande a replicação do vírus em glândulas salivares, língua e saliva. "O procedimento odontológico vinha sendo realizado tanto nos pacientes intubados quanto nos traqueostomizados. Nosso objetivo era sempre o de prevenir pneumonias causadas por outros microrganismos e as broncoaspiradas. Mas a rotina mudou e tivemos que investir nos pacientes ligados à ventilação mecânica por causa da Covid-19", explicou Dr. Chaia.

Durante a pandemia, os pacientes que estão em estado grave nos Centros de Tratamento Intensivo passam por higienização bucal frequente. Já os demais pacientes, menos graves, recebem a assistência em casos emergenciais. Além do tratamento tradicional de limpeza e higienização, com gaze e antissépticos, os profissionais hoje utilizam a laserterapia para eliminar infecções mais severas na boca devido ao processo de intubação.

"Quando somos levados para o CTI imaginamos uma situação ruim, grave, até de morte. Mas somos tão bem acolhidos que essa sensação negativa desaparece logo. Eu não imaginava que o hospital tivesse dentista para cuidar dos pacientes internados no CTI. Fiquei intubado por cinco dias devido à Covid. Depois descobri o trabalho dos dentistas, o qual ajuda a salvar vidas também. É muito gratificante", garantiu o motorista de aplicativo Marcos Vinícius Melo, de 37 anos.

Os cirurgiões bucomaxilofaciais também realizam procedimentos de urgência no Centro de Trauma do Heat todas as terças, quintas e sextas-feiras. Nos últimos seis meses, foram realizados na unidade mais de cinco mil procedimentos de todas as especialidades.

O Hospital Estadual Alberto Torres é uma unidade de urgência e emergência, especializado no socorro a pacientes com múltiplos traumas. O João Batista Cáffaro, em Itaboraí, no entanto, é uma unidade de retaguarda do Alberto Torres, mas que virou hospital exclusivo para tratamento e internação de pacientes de Covid-19 de dezembro de 2020 a junho deste ano. As unidades são administradas pelo Instituto de Desenvolvimento, Ensino e Assistência à Saúde (Ideas) em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde (SES).
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Procedimento era realizado em intubados e traqueostomizados para prevenir pneumonias, mas pandemia mudou rotina agora focada em pacientes na ventilação mecânica - Divulgação / Alex Alves
Procedimento era realizado em intubados e traqueostomizados para prevenir pneumonias, mas pandemia mudou rotina agora focada em pacientes na ventilação mecânicaDivulgação / Alex Alves