Rio - Um reforço de agentes da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) deverá chegar ao Rio até o final de maio. O pedido partiu do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), ao presidente Michel Temer (PMDB), ontem, em reunião em Brasília. A demanda foi repassada ao ministro da Justiça, Osmar Serraglio.
Fontes da secretaria de Segurança já contam como certo o envio de 200 homens da Força Nacional e outros 50 da PRF. O reforço federal já era debatido na Alerj como uma das saídas para a redução da criminalidade. Ontem, a presidente da Comissão de Segurança Pública da Alerj, deputada estadual Martha Rocha (PDT), afirmou que deputados irão se reunir com Serraglio, dia 15 de maio, para reforçar o pedido.
Os agentes extras serão para atuar na prevenção dos roubos de cargas e do tráfico de drogas, pois os agentes federais iriam agir nas divisas do estado e, os da Força Nacional, nas rodovias estaduais.
O modelo de ação seria similar ao da Operação Asfixia, realizada entre novembro e janeiro, nas rodovias. “Fizemos um cinturão de segurança na região e impedímos que a carga roubada chegasse às comunidades. Em duas semanas de ação houve redução drástica na região da Pavuna”, afirmou o delegado Rodrigo Dorigos, da DRFC (Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas).
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A falta de agentes policiais nas ruas é um dos problemas apontados pela PM que resultou no aumento da criminalidade. Conforme O DIA noticiou domingo, desde o final dos Jogos Olímpicos, há menos 500 policiais por dia nas ruas do Rio devido à falta de verba para o RAS (Regime Adicional de Serviço).
Soluções para auxiliar na crise da segurança não faltam por parte de especialistas da área. O coronel Ubiratan Ângelo, do Viva Rio, considera importante o reforço nas vias da região metropolitana. “Não precisa reforçar toda a fronteira do Brasil. Mais policiamento na fronteira metropolitana iria dificultar a entrada de armas para traficantes. A letalidade violenta diminuiria”.
Além disso, segundo Ângelo, uma mudança nas leis deveria ocorrer. “Sou a favor da legalização das drogas, que matam mais pela sua ilegalidade do que pelo seu uso”, afirmou.
Já de acordo com Robson Rodrigues, consultor do Instituto Igarapé, é necessário rever as ações policiais. “Tem que reorganizar o patrulhamento preventivo. Se o cobertor está curto, o mais sensato a fazer é recuar as operações e ampliar o patrulhamento ostensivo. Operação não pode ser a rotina, mas a excepcionalidade”.
O advogado Fernando Humberto, presidente da Confederação Brasileira de Tiro e Caça do Brasil, traça um futuro preocupante em relação ao tráfico de armas, com uma maior negociação envolvendo o tráfico de drogas e guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
“São armas capazes de destruir um caveirão de ponta a ponta. A única forma de impedir a entrada dessas armas é fazendo um bloqueio nas fronteiras com raio-x, leitura de placa, leitura facial e um sistema computadorizado que repasse as informações às autoridades”, argumentou Fernando Humberto.
Para o presidente da Associação de Praças da Polícia Militar, Wanderley Ribeiro, os policiais também são vítimas da falta de estrutura da corporação. “Os policiais de base são as maiores vítimas em um sistema que te joga na boca do lobo. Temos coletes vencidos, carros sem combustível, armas que falham”, afirmou ele.
Fatos que abalaram a cidade em 2017
Bandidos agem em qualquer lugar e hora. Na semana passada, houve tiroteio em plena Av. Presidente Vargas. A polícia reagiu à ação de bandidos que assaltavam motoristas. No mês passado, passageiros foram feitos reféns na Ponte. A população tem medo a pé, no ônibus, no carro, em casa, no trabalho. Relembre alguns casos:
Maria Eduarda
No dia 30 de março, Maria Eduarda Alves da Conceição, 13 anos, foi morta, vítima de balas perdidas, inclusive tiro de fuzil, quando fazia Educação Física na quadra na Escola Municipal Daniel Piza, em Acari. Na ocasião, policiais militares realizavam operação de combate ao tráfico de drogas na região. A morte da menina, que sonhava em ser jogadora de basquete, consternou a sociedade fluminense. O secretário de Educação acusou PMs pela morte da menina. Dois foram presos, mas soltos logo depois. Prefeito falou em blindar escolas.
Laranjeiras chora
Miguel Ayoub, de 19 anos, foi morto durante assalto em Laranjeiras, a 300 metros do Palácio Guanabara, sede do Governo do Estado, em 14 de abril. O rapaz estava com a namorada em uma moto, quando foi abordado por dois bandidos em outra moto. Ele tentou fugir e acabou sendo baleado. Miguel chegou a ser socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado para o Hospital Miguel Couto, mas não resistiu. A namorada de Miguel ficou ferida por estilhaços. Foram feitas várias manifestações, mas a polícia ainda não prendeu os suspeitos.
Daniel Gomes, esfaqueado
Morador da Rocinha, Daniel Barbosa da Silva Gomes, 20 anos, morreu depois de ser esfaqueado em Ipanema, no dia 5 de março, ao reagir a um assalto. O crime ocorreu na Avenida Vieira Souto, na orla da praia, um dos metros quadrados mais caros do país. Daniel estava acompanhado por amigos que participavam de uma festa na praia. Um grupo de aproximadamente oito jovens tentaram roubar um colega do rapaz, que interveio, tentando impedir o roubo. Daniel foi brutalmente agredido com uma facada nas costas e morreu no local.
Fernanda Adriana, 7 anos
Fernanda Adriana Caparica Pinheiro, 7 anos, brincava no terraço da casa onde morava, no Parque União, Complexo de Favelas da Maré, quando foi atingida no peito por um tiro de fuzil. A menina chegou a ser levada para o Hospital Geral de Bonsucesso, mas não resistiu ao ferimento. A polícia garantiu que não fazia operação na região. Traficantes de facções rivais é que teriam entrado em confronto pelo controle do tráfico de drogas no Complexo da Maré.
Colaborou Paloma Savedra