Rio - O interventor federal da Segurança Pública do Rio, general Walter Braga Netto, disse, nesta terça-feira, ao jornal O Estado de S. Paulo, que "não houve mudança de estratégia" no enfrentamento ao crime organizado. Na segunda, houve a entrada de militares das Forças Armadas nos complexos da Penha, Alemão e da Maré, na Zona Norte, o que levou a duas baixas no Exército.
- Forças de segurança fazem segundo dia de operação em comunidades da Zona Norte
- ONG denuncia truculência e ilegalidade em megaoperação na Zona Norte
- Militares mortos em operação das Forças Armadas são enterrados
- Moradores procuram por corpos na mata do Complexo da Penha
- Chefe do tráfico do Jacarezinho é preso em hospital, onde estava após ser baleado em operação
"O que mudou é que o trabalho de inteligência está mais aprimorado", declarou o general Braga Netto, ao explicar que as polícias Militar e Civil do Rio estão agora mais treinadas, atuam em conjunto com as Forças Armadas, sob um comando único, e estão enfrentado o crime "com eficácia".
O general diz que antes da intervenção, "os bandidos estavam acostumados a dar tiros e nada acontecia. Só que, agora, isso mudou. Existe uma política de enfrentamento da bandidagem." De acordo com fontes do estado, a ação com "surpresa" foi o diferencial da operação.
Saldo
Na terça, de acordo com o comando da intervenção, não houve tiroteios na região. Na segunda, as operações foram realizadas simultaneamente nas três comunidades. Nas diversas ações realizadas, cinco suspeitos foram mortos - as investigações ainda estão sendo realizadas. O saldo da operação até agora é de 70 presos e apreensão de quatro fuzis e outras 10 armas e 1.045 munições de calibres variados.
De acordo com o general Braga Netto, todo o trabalho foi feito com auxílio da inteligência "que, a cada dia, está se aprimorando mais".
Ele citou que os bandidos resolveram enfrentar as tropas estaduais e federais e estes militares, ao contrário do que acontecia antes, estão reagindo e partindo para o confronto.
O general lembrou ainda que o pessoal está motivado e treinado e isso torna o trabalho mais efetivo. "Não houve mudança de estratégia para colocar o Exército ou PM à frente das operações. Cada ação tem um desenho cuidadosamente traçado. O trabalho de ontem (segunda) contou com a Polícia Civil e um respaldo muito bom da inteligência, que apontou os alvos", prosseguiu.
Ele explicou também que esta operação foi muito maior do que outras, porque a região é perigosa já que no Alemão funciona o quartel-general da facção Comando Vermelho.
Críticas
O general respondeu às críticas de que, se o comando da intervenção usasse a inteligência para auxiliar as operações, o confronto seria evitado. "Isso é uma bobagem. Isso não existe", avisou o responsável pela intervenção no Rio.
Ele esclareceu que a inteligência "clareia" o trabalho e permite que as forças policiais cheguem com mais precisão aos alvos. Na avaliação do comando, com a situação que existe hoje no Rio, com o estado completamente "deteriorado" e tantas facções fortemente armadas, o enfrentamento acaba acontecendo naturalmente.
Nas operações anteriores, justificou o general, era feito um cerco e a estabilização. Desta vez, ocorreu o mesmo, mas a operação tem maior proporção por causa do tamanho da área e pelo fato de haver uma Unidade Pacificadora (UPP) em funcionamento.
Segundo o interventor, 4,2 mil homens participaram da operação e este número é semelhante ao usado em outras ações.
Elemento surpresa
De acordo com informações obtidas pelo Estado de S. Paulo, a diferença da operação desta segunda, que levou a várias baixas, é que houve o "elemento surpresa" e um trabalho integrado, como já estava sendo feito em outras comunidades. "Não houve mudança de estratégia. O que houve é que nós os surpreendemos pelo trabalho de inteligência muito bem feito e, ao surpreendê-los, tendo em vista o volume de ilícitos que há ali e números de criminosos, de toda ordem, em uma área densa de criminalidade, houve um desfecho de maiores proporções", comentou um dos militares envolvidos na operação.
O comando lembra que a polícia está se requalificando e disposta ao enfrentamento. Apesar das mortes de militares das Forças Armadas, as operações de busca, apreensão, cumprimentos de mandados com execução de prisões vão continuar. Com o trabalho de operação mais aprimorado, as tropas federais podem chegar de forma mais eficaz aos pontos a serem atacados, levando ao confronto e até a mortes.
Para os militares, é preciso desmistificar a ideia de que operar com inteligência significa não precisar ter operação convencional, principalmente se há disposição dos criminosos de aterrorizar a sociedade e partir para o confronto com as forças policiais.
Mesmo lamentando a morte dos dois integrantes do Exército, os militares reiteram que as operações prosseguirão para capturar os bandidos, drogas e armas. Esses mesmos militares lembram que o risco é inerente à atividade policial e à vida nas Forças Armadas.
Os agentes se incomodam também com as críticas de que eles não têm uma política de enfrentamento e explicam que este enfrentamento tem sido feito pelos bandidos. Eles lembram que muitos criminosos, ao se verem encurralados, se entregam, e estes não são mortos.