Representantes dos bombeiros e policiais militares também pedem que o direito à paridade seja mantido - Reginaldo Pimenta
Representantes dos bombeiros e policiais militares também pedem que o direito à paridade seja mantidoReginaldo Pimenta
Por ADRIANO ARAÚJO

Rio - Um dos socorridos no desabamento na Muzema morreu no início da tarde desta sexta-feira. Cláudio Rodrigues, 41 anos, foi retirado dos escombros em estado grave e foi levado ao Hospital Unimed-Rio, na Barra da Tijuca, também na Zona Oeste do Rio. Ele teve quatro costelas quebradas, quatro paradas cardíacas e água no pulmão. O número de vítimas fatais vai a três.

As outras duas mortes são de um homem e um menino. Ainda não há a identificação deles.

Políticos se manifestam sobre desabamento na Muzema

A esposa e a filha de Cláudio, Adilma e Clara Rodrigues, de 35 e 8 anos, respectivamente, também foram soterradas no desabamento. Clara está internada com o quadro de saúde estável no mesmo hospital para onde o pai foi levado. Já Adilma está grave no Hospital Lourenço Jorge, ainda na Barra.

O tio de Adilma Rodrigues, Flavio Gomes, disse que a família estava abalada com a morte de Cláudio. Ele disse que soube do desabamento do prédio pela manhã na TV. Ele mora na Muzena, mas em outra parte. Flavio, que é motorista, contou que a sobrinha ainda não sabe da morte do pai. Ela vai ficar na casa dele.

 

"Vai ser uma perda muito grande para a comunidade a morte do Cláudio. Ele era pastor de uma igreja que ajudamos a fundar, era vice-presidente da associação de moradores. Foi jogador de futebol. Ele tinha uma história linda", afirmou o tio.

 

Segundo Flavio, mesmo machucado Cláudio ainda ajudou a tirar a viga que caiu em Adilma e teria afetado seu baço e o quadril. Ele explicou que Adilma deve passar por uma nova cirurgia e que os médicos informaram à família que o estado dela é muito grave.

Outros dois sobreviventes foram levados para o Lourenço Jorge: Raimundo Nonato Ferreira Gomes, 41, que teve escoriações na cabeça, e Luciano Paulo dos Santos, 38, que chegou à unidade com múltiplas escoriações. As demais vítimas seguiram para o Hospital Miguel Couto.

As vítimas fatais

1. Homem (sem identificação)

2. Criança/menino (sem identificação)

3. Cláudio Rodrigues, 41: foi levado ao Hospital Unimed Rio, mas não resistiu aos ferimentos

Os sobreviventes

1. Clara Rodrigues, 8 - Hospital Unimed Rio (estável)

2. Adilma Rodrigues, 35 - Lourenço Jorge (grave no CTI)

3. Raimundo Nonato Ferreira Gomes, 41 - Lourenço Jorge (escoriações)

4. Luciano Paulo dos Santos, 38 - Lourenço Jorge (escoriações)

5. Evaldo Vireira da Silva, 46 - Miguel Couto (dores)

6. Carolina Ferreira Andrade - Miguel Couto (sem estado de saúde)

7. Arlan - Miguel Couto (sem estado de saúde)

8. Paloma Paes Leme - Miguel Couto (estável)

9. Rafael Paes Leme, 4 - Miguel Couto (estável)

 

O antes e o depois do local - BTN / COR e Reprodução / Google

Um morador que ajudou nos resgates da família e dos mortos disse que as duas vítimas fatais são pai e filho. "Escutei um barulho forte, por volta das 6h40. Quando cheguei lá, encontrei o pai, mãe e filha (família de Cláudio) e ajudei a resgatá-los. Eu e outras pessoas entramos nos escombros e vimos um pai com o filho abraçados, enterrados de cabeça para baixo, já sem vida", afirmou, sem querer se identificar.

O garçom Damião Bezerra do Vale está no local desesperado por informações da mulher, Antônia Deiva Sampaio, de 30 anos. Ela, que está soterrada nos escombros, morava com ele no terceiro andar de um dos prédios. "Eu estava dormindo na hora e escapei porque já tinha saído para trabalhar", afirma, bastante emocionado.

Anúncio vendia apartamento em prédios que caíram na Muzema por quase R$ 50 mil

A monitora de transporte escolar Ana Maria de Souza, 24, aguarda por informações da cunhada da irmã e da filha dela, Juliana e Ana Júlia Martin, de 28 e 6 anos, respectivamente. "A gente pede muito a Deus para que elas estejam bem. Vamos esperar para ver", torce.

Várias pessoas foram resgatadas com vida - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Doze quartéis envolvidos

Os prédios que caíram ficam no Condomínio Figueiras do Itanhangá; um teria cinco e outro três andares. A comunidade liga o Rio das Pedras ao Itanhangá, pela Estrada de Jacarepaguá.

O Corpo dos Bombeiros informou que foi acionado às 6h48 e que 90 militares de doze quartéis estão trabalhando na região. Dentre eles, agentes do Grupamento de Busca e Salvamento, especializado em técnicas de resgate em estruturas colapsadas.

"Nossa maior dificuldade é de acesso ao local e estamos trabalhando com suspeita sobre a estrutura, até mesmo para preservar quem está sob os escombros", avaliou o subcomandante do Corpo de Bombeiros, o coronel Marcelo Gisler.

Militares estão instalando pontos de iluminação no local das buscas, um indicativo de que o trabalho de resgate de outras possíveis vítimas continuará durante o período da noite. 

Bombeiro comemora muito depois de resgate - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Prefeito e governador

O prefeito Marcelo Crivella (PRB) chegou ao local por volta das 8h. Equipes da Guarda Municipal, Polícia Militar, Light e Cedae também foram acionadas. Ele ainda não falou com a imprensa, mas se manifestou através de um vídeo postado nas redes sociais; confira

O governador Wilson Witzel (PSC) também mandou mensagem pelas redes sociais. Ele disse estar "acompanhando com preocupação" o episódio. "Nossos bombeiros, como sempre, fazendo seu melhor", disse, através do Twitter.

O vice-governador Cláudio Castro (PSC) foi ao local e disse que há riscos de outros desabamentos. "Vamos ter que demolir os outros prédios para impedir que essa desordem urbana cause mais tragédias", avisou, sobre a ocupação irregular na região. 

Cláudio rebateu declarações do prefeito de que não consegue fiscalizar a região por causa do domínio das milícias. "Já estamos fazendo um grande combate às milícias. A responsabilidade que o governo assume é de tentar salvar as pessoas e de ajudar para que coisas como essas não aconteçam mais, principalmente se forem coisas ligadas à segurança pública. Tem cuidar para que áreas não sejam dominadas ao ponto de não se conseguir fazer trabalho de fiscalização", defendeu.

No início da tarde, o secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes, chegou ao local. Ele não falou com os jornalistas, mas disse que estava lá para intermediar o diálogo entre o governo do estado e a prefeitura.

Bombeiros fazem resgate nos escombros - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Construção irregular

A prefeitura informou que as construções da região onde houve o desabamento são irregulares, não autorizadas pelos órgãos fiscalizadores e que tiveram as obras interditadas em novembro de 2018. 

"A região é uma Área de Proteção Ambiental (APA) e os prédios ali construídos não respeitam a legislação em vigor. Por se tratar de área dominada por milícia, os técnicos da fiscalização municipal necessitam de apoio da Polícia Militar para realizar operações no local. Foi o que aconteceu em novembro de 2018, quando várias construções irregulares foram interditadas e embargadas pela prefeitura", disse, através de nota.

Região do desabamento fica próximo da encosta da região - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Ação das milícias

A região é dominada pela milícia. Em janeiro deste ano a Operação Os Intocáveis prendeu cinco pessoas por grilagem de terras em Rio das Pedras, Muzema e redondezas, dentre elas o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira e o tenente reformado Maurício Silva da Costa, o Maurição.

Os dois são apontados como chefes da milícia, ao lado de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do Bope, que ainda está foragido há três meses. Mãe e esposa de Nóbrega eram empregadas no gabinete do então deputado estadual Flavio Bolsonaro até novembro do ano passado. Os outros presos na ocasião foram Manoel de Brito Batista, o Cabelo; Benedito Aurélio Ferreira Carvalho, o Aurélio; e Laerte Silva de Lima.

Os envolvidos foram denunciados pela construção, venda e locação ilegais de imóveis; receptação de carga roubada; posse e porte ilegal de arma; extorsão de moradores e comerciantes, mediante cobrança de taxas referentes a "serviços" prestados; ocultação de bens adquiridos com os proventos das atividades ilícitas, por meio de "laranjas"; falsificação de documentos; pagamento de propina a agentes públicos; agiotagem; utilização de ligações clandestinas de água e energia; e uso da força como meio de intimidação e demonstração de poder.

A região foi uma das mais afetadas pelo temporal do início da semana - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Em setembro do ano passado, policiais militares do Comando de Polícia Ambiental (CPAM) fizeram uma operação no local e prenderam 39 pessoas por envolvimento com grupos paralimitares. A operação foi realizada na Muzema, Morro do Banco, Tijuquinha, Vila da Paz, Ilha da Gigóia e Ilha Primeira, todas no Itanhangá, que faz parte da região administrativa da Barra da Tijuca.

Na época, os agentes descobriram a construção de dezenas de prédios de quatro a seis andares em média, onde anúncios ofereciam apartamentos de diversos valores e condições de pagamento, inclusive com projeção de taxas de condomínio. As construções clandestinas verticalizadas não possuíam infraestrutura básica, como ligação regular de esgoto, que seriam lançados em rios e na Lagoa da Barra, e poluiria essas águas.

 

Vista aérea do local onde prédios desabaram na Muzema - BTN / COR

TEMPORAL

A região da Muzema foi uma das mais atingidas pelo temporal que caiu na cidade no início da semana. Até hoje, os moradores enfrentam efeitos dos estragos das chuvas com grandes alagamentos.

Apesar de não chover mais, o Rio segue em estágio de crise, pelo quarto dia consecutivo. O nível mais elevado de tensão na cidade representa possibilidade de "deslizamentos e transtornos generalizados em uma ou mais regiões". 

Por causa das consequências do temporal, o prefeito decretou, nesta quinta, Estado de Calamidade no Rio.

Área do Condomínio Figueiras do Itanhangá - Reprodução / Google

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