A variante P.1 foi identificada primeiramente em Manaus, no Amazonas. No início do mês de fevereiro, pacientes da capital manauara foram transferidos para o Rio de Janeiro, por conta da crise na saúde do estado do norte.
"Todas essas variantes, sem exceção, a da Califórinia, da África do Sul, a Amazônica, e a outra de Roraima, todas elas são muito semelhantes, porque tem uma mutação no material genético da proteína AS que faz com que ela tenha uma ligação mais forte com os receptores nas vias aéreas, o que aumenta a transmissibilidade. A P1 ainda está sendo analisada, mas, se acredita pelas mutações que ela já apresentou, que ela seja muito semelhante a variante inglesa e por isso seja mais transmissiva", explicou o médico infectologista e epidemiologista, Bruno Scarpellini.
Segundo os especialistas, ainda não se tem estudos comprovados de que a cepa P1 seja mais agressiva ou letal, mas os dados iniciais já apontaram que a nova variante pode causar mais doenças e atingir mais jovens.
"Ela tem capacidade de causar mais doenças, por causa da capacidade maior de transmissão. A variante causa infecção com cargas virais bastante elevadas e ela tem uma afinidade pelo receptor da célula humana muito maior que a cepa original, então ela tem capacidade de causar um maior número de casos e, obviamente, de infectar mais jovens", analisou o médico infectologista Alberto Chebabo.
"A P1 surgiu desse novo surto, da terceira onda amazônica. Aconteceu uma crise humanitária, sem respirador e oxigênio. Deveria ter sido feito um lockdown em Manaus, e uma grande campanha de vacinação na região, para ter tentado controlar essa história. A partir do momento, que os doentes vão sendo transferidos para outras cidades do Brasil, é natural que essa variante comece a ser introduzida em outros locais", disse Bruno Scarpellini.
Com a circulação da nova cepa do vírus no estado, com ainda mais capacidade de transmissão da covid-19, e as constantes aglomerações realizadas durante o carnaval, no Rio de Janeiro, principalmente na Zona Sul, na Lapa e na Barra da Tijuca, e na Região dos Lagos, a preocupação dos especialistas, é de que tenha-se uma terceira onda da doença e um aumento no registro de novos casos e óbitos.
"As aglomerações no carnaval fazem com que você tenha um aumento muito grande na disseminação, na introdução dessas variantes para que elas se tornem a cepa predominante. E isso vai ter um impacto muito grande nos próximos meses. A gente tem visto turistas com pessoas do Rio de Janeiro. Pessoas juntas de diferentes bairros, cidades e estados, e isso faz com que dali as pessoas transmitam, levem para suas cidades a nova variante ou tragam aqui para o Rio , transmitindo essa cepa", afirmou Alberto Chebabo.
"Não foi surpresa a detecção da nova variante. As pessoas vão e vem, e com elas os microorganismos que carregam. O que precisamos estar atentos é que a variante P1 é altamente transmissível. Ainda não temos dados suficientes para dizer se aquele que se infecta com essa cepa terá uma evolução clínica mais grave. Então, o mais importante de tudo é que todos entendam que o que precisamos fazer para nos protegermos são as bem conhecidas medidas: uso de máscara, higiene das mãos, evitar aglomerações", declarou Tânia Vergara.
Outro caminho para o combate ao coronavírus é a vacinação. Entretanto, os especialistas ainda não tem estudos científicos concretos sobre como as vacinas já produzidas irão se comportar diante das novas variações do coronavírus. Mas, para o infectologista Bruno Scarpellini, a Coronavac possa reagir melhor à P1.
"Aparentemente, a gente só tem uma vacina no Brasil que seria capaz de driblar essa variante, que é a Coronavac, do Butantã, por ser uma vacina de vírus integral. A gente não tem dados da Astrazeneca para a P1, a gente tem dados para a variante sul-africana e a inglesa, onde teve uma pequena perda de eficácia, então, é possível que ela tenha perda de eficácia é possível que ela também tenha perda com a variante da P1", analisou o médico.
Mas Alberto Chebabo alerta que essa perda também pode acontecer com a Coronavac. "Em relação a Coronavac, essa questão dela ter um vírus inteiro, não significa que não possa ter uma perda de eficácia e que vá ter uma resposta igual contra todas as variantes. Mas tudo ainda é hipótese, precisa do estudo científico para ser comprovado", explicou.