Namorado de Kathlen Romeu, designer Marcelo Ramos fala pela primeira vez à imprensa na Delegacia de Homicídios da CapitalEstefan Radovicz / Agência O Dia

Por Yuri Eiras
Rio - O designer gráfico Marcelo Ramos, 26, namorado de Kathlen Romeu, falou pela primeira vez sobre a morte da jovem, baleada durante confronto na última terça-feira no Complexo do Lins, Zona Norte do Rio. Ele, os pais de Kathlen e a avó estão na tarde desta sexta-feira na Delegacia de Homicídios da Capital (DH). Sayonara Fátima, que presenciou a morte da neta, está sendo ouvida no início desta tarde.

Muito abalado, Marcelo pediu justiça e disse que Kathlen e o bebê estarão com ele "até o último dia". O marido reafirmou a versão da família de que a bala que atingiu o tórax de Kathlen partiu dos policiais. A PM nega. Os 12 agentes envolvidos na ação foram afastados temporariamente das ruas.

"Até o último dia ela vai estar comigo. Ela e meu neném. E as pessoas vão pagar. Não só os policiais que estavam na hora, mas o comandante também", disse Marcelo, abalado.

"Kathlen sempre foi batalhadora. Uma mulher preta grávida, que nasceu na favela e era trabalhadora, guerreira, forte, muito forte e destemida. Mas ao mesmo tempo doce, meiga, criança. Iluminada. Ela perdeu a vida de um modo que ninguém merece perder. Ela e o nosso filho. É difícil ficar pedindo justiça, todo dia a gente vê isso e nunca muda. Mas se não tiver ninguém para pedir, aí mesmo que não vai mudar. Por ela quer estou aqui e vou continuar lutando. Ela e nossos amigos da comunidade. Vamos mover ações, fazer tudo para que ela não seja esquecida", disse Marcelo.
A mãe de Kathlen, Jackeline de Oliveira fez um desabafo emocionado após prestar depoimento e pediu justiça pela vida da filha. "Que ela seja a última. Gravem esse nome: Kathlen Romeu", disse.
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Nadine Borges, vice-presidente da comissão de Direitos Humanos da OAB disse que não há indícios de troca de tiros e sim de homicídio. Ela também destacou que a operação realizada no dia da morte de Kathlen vai contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que proíbe a atuação de policiais em comunidades durante o período de pandemia.
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"Foi muito chocante o que nós ouvimos, sobretudo da avó. Os indícios de homicídio são muito fortes, além de fraude processual e desobediência da determinação do STF. É mais um homicídio de pessoa negra num território de favela. Não vamos descansar um segundo até esclarecer e responsabilizar quem está por trás desse comando. A OAB/RJ fará tudo o que for preciso", destacou.
A avó de Kathlen disse que os policiais não socorreram a neta e que apesar de ouvir muitos tiros, ela só identificou a presença dos militares. Rodrigo Mondego, procurador da Comissão de Direitos Humanos da OAB disse que não havia vestígios de cápsulas quando a polícia chegou e defendeu a hipótese de homicídio.

"Deve ser garantida a presunção de inocência de todos, inclusive dos policiais. Mas também a presunção de verdade da família. Muitas vezes desqualificam as vítimas e as famílias das vítimas. Não temos dúvidas de que foi um homicídio. Há indícios muito fortes. Não havia mais vestígios das cápsulas quando a polícia chegou", explicou.