Parentes de Kathlen Romeu deixam o Ministério Público do Rio de Janeiro após dia de depoimentosLuciano Belford

Por *Thalita Queiroz
Rio - As investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre a circunstâncias da morte de Kathlen Romeu apontam que há fortes indícios de alteração na cena do crime, como por exemplo a mudança na posição dos cartuchos no local, caracterizando fraude processual. A informação foi divulgada pelo promotor do Ministério Público junto à auditoria militar, Paulo Roberto Mello Cunha Júnior, durante o depoimento da avó de Kathlen, Sayonara Fátima, na tarde desta terça-feira. O promotor informou que vai aguardar a reprodução simulada, marcada para o dia 14 de julho, e a conclusão do inquérito.
A avó, uma das testemunhas do ocorrido no dia 8 de junho, em uma ação da Polícia Militar no Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio, reafirmou o que já havia dito nos primeiros depoimentos. Sayonara diz que implorou por socorro à uma equipe da Polícia Militar que estava atuando na região e que não havia confronto entre traficantes e policiais no momento dos disparos.

De acordo com Rodrigo Mondego, procurador da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, que acompanha os familiares da jovem nos depoimentos no Ministério Público do Rio, a avó ficou bastante desestabilizada com a chegada dos dois policiais que estavam no momento em que a neta foi baleada. "Ela ficou muito abalada quando viu os dois, ela teve que reviver toda a cena na cabeça dela, foi dificíl", disse Mondego.

No período da manhã, os familiares da jovem foram ouvidos pelo promotor responsável pelo caso, Dr. Alexandre, junto à Polícia Civil que está investigando o crime de homicídio. De tarde, por volta das 13h, a avó foi ouvida na auditoria da Polícia Militar do Ministério Público, pelo promotor Paulo Roberto Mello Cunha Júnior, para a apuração de possíveis crimes militares no momento da ação no Complexo do Lins.

Segundo a Polícia Militar, 12 agentes envolvidos na operação no Complexo do Lins, que resultou na morte de Kathlen Romeu, foram afastados das ruas, cinco deles prestaram depoimentos duas vezes. Também foram apreendidas as armas dos policiais: 10 fuzis calibre 7.62, dois fuzis calibre 5.56 e nove pistolas .40.

Moradores negam confronto no momento do tiro
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Os moradores da comunidade Barro Vermelho, no Complexo do Lins, afrmam que o tiro de fuzil que matou Kathlen Romeu partiu da Polícia Militar. Eles usam o termo "cavalo de troia" para explicar a ação dos militares. "Eles fizeram 'troia' para atacar os bandidos, mas acabaram matando uma inocente grávida (Kathlen estava no quarto mês de gestação). Eles estavam escondidos dentro de uma casa desde a manhã, por várias horas, esperando os bandidos aparecerem. Quando eles surgiram, os PMs atiraram de dentro dessa casa. Mas quem morreu foi a menina inocente. Foram dois tiros apenas. Não houve tiroteio", disse uma moradora da comunidade, que afirmou ter presenciado o momento.
Segundo ela, os policiais só pararam de atirar após os gritos da avó da vítima, que foi atingida na Rua Araújo Leitão, por volta de 14h: "Logo depois dos tiros eu só vi a tia gritando: 'para, para, ajuda a socorrer'. Aí eles pararam de atirar. Eu fui ajudar e vi que a Kathlen tinha sido atingida", informou a moradora.
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PM diz que policiais foram atacados por criminosos
O porta-voz da PM, major Ivan Blaz, disse na ocasião que policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Lins foram atacados por traficantes. Segundo o porta-voz, os PMs foram os primeiros a chegar no local em que Kathlen estava. De acordo com ele, os militares afirmaram que não foram os responsáveis pelos disparos que mataram a jovem.
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*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes