Família da jovem Kathlen Romeo chega para ser ouvida na DH Capital, na Barra da Tijuca. Na foto, a avó, Sayonara Fátima.Estefan Radovicz / Agência O Dia

Por Yuri Eiras
Rio - A Polícia Militar informou que os 12 agentes envolvidos na operação no Complexo do Lins, que resultou na morte de Kathlen Romeu, foram afastados das ruas, cinco deles prestaram depoimentos duas vezes. Avó, mãe, pai e marido estiveram na Delegacia de Homicídios (DH) na manhã desta sexta-feira. A avó será ouvida pelos policiais.

Luciano Gonçalves, o pai, Marcelo Ramos, o marido, Jacklline Oliveira, a mãe, e Sayonara de Fátima, a avó, chegaram muito abalados e em silêncio à delegacia. Eles estavam acompanhados de advogados e membros da comissão de Direitos Humanos da Alerj.

O principal ponto solto a ser apurado é de onde partiu o tiro que atingiu Kathlen, durante ação da Polícia Militar no Complexo do Lins, na última terça-feira. Familiares afirmam que os tiros partiram dos PMs. A corporação nega.
Publicidade
"A 3ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Rio de Janeiro informa que instaurou Procedimento Investigatório Criminal (PIC) para investigar, em procedimento independente, os fatos que causaram a morte de Kathlen de Oliveira Romeu. Por sua vez, a Promotoria de Justiça junto à Auditoria Militar do MPRJ informa que também instaurou PIC para apurar eventual crime militar relacionado ao caso", afirmou.
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Álvaro Quintão, a ação policial que terminou com a morte da jovem grávida Kathlen Romeu foi irregular. "Se os policiais estavam nesta ação dentro da favela, foi irregular porque não comunicaram ao Ministério Público e a PM negou a operação, por outro lado, se os policiais estavam em operação à revelia do comando da PM, também se trata de uma operação irregular", afirma o presidente.
Publicidade
Na quinta-feira, os pais de Kathlen Romeu participaram do 'Encontro'. O casal Jaqueline e Luciano criticaram a maneira como as operações policiais são feitas nas comunidades e o alto número de negros mortos nessas situações.
"As vidas só importam na zona sul. As operações são diferentes, são menos desastrosas. Tudo que ensinam para a gente, que você tem que estudar, andar com pessoas de bem, se formar, é perdido no meio do caminho", diz a mãe de Kathlen. "Eu queria ganhar esse tiro", completou Jaqueline.

"Devastaram a minha vida. Devastaram a vida da minha família", continua Jaqueline. A mãe da jovem fala que estava no trabalho quando a filha foi atingida pelo tiro e conta que o marido foi buscá-la para irem ao hospital. Parentes contaram para ela por telefone que Kathlen havia sido atingida no braço, mas chegando no hospital descobriu que ela já estava morta.
Publicidade
"Como moradora de comunidade, eu sei das covardias que aconteceu. Eu pensei em tiro de fuzil e pensei que o braço dela pudesse estar pendurado. Eu jamais imaginaria que ela morreu. A única coisa que eu perguntei foi como um tiro no braço mata alguém, tem alguma coisa errada", lembra. "Ela foi ceifada, foi arrancada brutalmente", lamenta Jaqueline.