Enterro do lutador Vitor Reis Amorim, morto no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo, nesta quarta-feira (29). Na foto Vaneuci Ferreira de Amorim (pai) com medalhas sobre o pescoço.Fabio Costa Agência O Dia

Rio - O pai do jovem Vítor Reis de Amorim, de 19 anos, voltou a afirmar, nesta segunda-feira, que vai lutar para provar a inocência do filho, morto na tarde da última terça, no bairro Patronato, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. O autônomo Vanelci Ferreira de Amorim, de 58 anos, informou ao O DIA que já foi convocado para prestar depoimento, mas só irá comparecer à delegacia após uma reunião com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que está marcada para a próxima sexta-feira.
"A polícia já me ligou para ir prestar depoimento, mas me instruíram para ir com um advogado. Então, depois dessa reunião na Alerj vou marcar uma data para depor", disse Valneci. 
O pai de Vítor Reis clama por justiça, mas teme que a morte do seu filho fique impune. "O que eu espero é que eles vejam que o meu filho foi inocente. É só isso que eu quero, não quero nada demais, não. Só quero que seja provado que meu filho não era bandido. Mas eu sei que é difícil, será mais um caso que vai ficar e daqui a pouco vai ser outro e nunca nada é resolvido. O problema é esse", lamentou Valneci, que completou:
"Ele nunca foi bandido e isso daí eu tenho certeza absoluta. Eu to botando minha cara pra falar, como eu já disse pra todo mundo, que se meu filho fosse um bandido, jamais estaria nessa batalha. Mas de repente vai ser mais um na estatística, como todo mundo fala. No fundo do meu coração, espero que a verdade apareça".
De acordo com a 73ª DP (Neves), responsável pelo caso, diligências prosseguem em busca de elementos que ajudem a esclarecer os fatos. Há uma reprodução simulada prevista, mas ainda sem confirmação de data. 
Valneci disse que não irá acompanhar a reconstituição do crime. "Estou sem forças e vou ver se seguro minha esposa pra não ir também, porque isso aí é trabalho deles e eles tem que ir lá e ver o que vão fazer. Eu não vou lá não, preciso descansar um pouco".
Os investigadores acreditam que será difícil descobrir de onde partiu o tiro que acertou Vítor. O motivo é que a bala que matou o jovem não foi encontrada. De acordo com o delegado que acompanha o caso, Leonardo Macharet, da 73ª DP (Neves), o objetivo da reconstituição não é só saber sobre o projétil que atingiu o lutador, mas também esclarecer todos os pontos que levaram à sua morte.
No sábado, uma testemunha revelou que presenciou o momento em que um policial militar realizou o disparo que matou Vítor Reis. Segundo o relato divulgado pelo RJ1, a pessoa, que não foi identificada, corroborou com a versão da família de que não houve tiroteio no local.
"Só foi um tiro, um único tiro. Não teve mais de um tiro, não teve. Ele se assustou, como eu me assustei também. Corri, como as demais pessoas correram", disse a testemunha, que estava na hora em que Vítor foi baleado dentro de um bar na comunidade da Jaqueira.
Segundo a Polícia Militar, os agentes foram atacados a tiros quando faziam patrulhamento e houve um confronto. O laudo da Polícia Civil confirmou que o tiro que matou o lutador entrou pelas costas da vítima.
Presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Alerj, a deputada Dani Monteiro (PSOL) afirmou que está prestando assistência à família do lutador. "É preciso amparar os familiares em tragédias como essa, mas, fundamentalmente, precisamos refletir e agir por uma política de segurança pública menos violenta e fatal para as populações negras, faveladas e periféricas. Sempre nos perguntamos até quando o Rio de Janeiro suportará tamanhas atrocidades contra seus jovens, especialmente, as principais vítimas das investidas desordenadas e sem inteligência promovidas pelas polícias. Dizer basta também é importante. Que a sociedade se manifeste é urgente”, pontuou. 
Família acusa PMs
De acordo com a família, o jovem tentou fugir para se proteger quando ouviu os disparos, mas testemunhas disseram que os policiais dispararam contra ele. Vítor Reis foi socorrido pelos próprios policiais e levado para o pronto-socorro de São Gonçalo, mas já chegou morto na unidade. Vaneuci disse que os policiais ocultaram a informação de que o filho já estava sem vida. "No hospital, eu perguntei aos policiais o que tinha acontecido e eles me engaram. 'Nós demos um tirinho nele que pegou no ombro' e era mentira, pegou na barriga".
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil de São Gonçalo informou "que o paciente deu entrada ao Pronto-Socorro Central já em óbito, às 16h37, com orifício de entrada na região peitoral à esquerda".
Procurada pelo O DIA, a Polícia Militar informou que uma pistola, munições e um rádio comunicador foram apreendidos no local da ocorrência. Os demais envolvidos fugiram para o interior da comunidade. De acordo com o porta-voz da corporação, major Ivan Blaz, os policiais não disseram se Vítor estava com esses itens. "Isso não foi apresentado pelos policiais. Na verdade, o que foi dito é que, após o ataque e o confronto armado, os criminosos fugiram para o interior da comunidade, restando ali ao solo o Vítor e a pistola".