Bala que matou Vítor Reis de Amorim entrou pelas suas costasReprodução Instagram

Rio - A reprodução simulada da morte do lutador Vítor Reis de Amorim, em uma ação da Polícia Militar, em São Gonçalo, na Região Metropolitana, será realizada às 16h desta terça-feira. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Leonardo Macharet, da 73ª DP (Neves), o objetivo da reconstituição não é só saber sobre o projétil que atingiu o lutador, mas também esclarecer todos os pontos que levaram à sua morte.O pai do jovem, Vanelci Ferreira de Amorim, de 58 anos, não deu certeza, mas acredita que não vai participar da reprodução. "Sou leigo nesse assunto, mas pelo que eu fiquei sabendo, eles vão fazer isso pra ver de onde a bala partiu e isso eu já sei. Não precisa eu ir lá ver. Não vou garantir que estarei presente, só vou saber na hora. Mas eu não estou pretendendo ir, porque o sofrimento é grande. Vou ter que passar por tudo isso de novo e por uma coisa que eu já sei? Não estou bem, estou muito abalado ainda", disse o autônomo ao DIA.
Valneci ainda contou que teme pela saúde da esposa, que segundo ele, está há uma semana à base de remédios e sem se alimentar direito:
"Infelizmente, meu filho não volta nunca mais, mas tenho certeza de que a justiça vai ser feita e vai ser provado que ele era inocente. Se meu filho fosse culpado, não estaria colocando minha cara a tapa por aí. Essa reconstituição do crime é só pra tentar defender os policiais, não é pra defender meu filho não. Eles que tem que provar que erraram. Isso aí que seria o ideal".
O pai de Vítor Reis afirmou que está sendo difícil passa pelo luto, mas que não vai desistir de provar a inocência do filho. "Estou com um buraco profundo no meu peito, nunca pensei na minha vida passar por isso. É uma dor inexplicável, não sei como é que eu estou aguentando. Estou sem ânimo pra nada, a verdade é essa, mas eu vou até o final".
No sábado, uma testemunha revelou que presenciou o momento em que um policial militar realizou o disparo que matou Vítor Reis. Segundo o relato divulgado pelo RJ1, a pessoa, que não foi identificada, corroborou com a versão da família de que não houve tiroteio no local.
"Só foi um tiro, um único tiro. Não teve mais de um tiro, não teve. Ele se assustou, como eu me assustei também. Corri, como as demais pessoas correram", disse a testemunha, que estava na hora em que Vítor foi baleado dentro de um bar na comunidade da Jaqueira.
Segundo a Polícia Militar, os agentes foram atacados a tiros quando faziam patrulhamento e houve um confronto. O laudo da Polícia Civil confirmou que o tiro que matou o lutador entrou pelas costas da vítima.
Presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Alerj, a deputada Dani Monteiro (PSOL) afirmou que está prestando assistência à família do lutador. "É preciso amparar os familiares em tragédias como essa, mas, fundamentalmente, precisamos refletir e agir por uma política de segurança pública menos violenta e fatal para as populações negras, faveladas e periféricas. Sempre nos perguntamos até quando o Rio de Janeiro suportará tamanhas atrocidades contra seus jovens, especialmente, as principais vítimas das investidas desordenadas e sem inteligência promovidas pelas polícias. Dizer basta também é importante. Que a sociedade se manifeste é urgente”, pontuou.
Família acusa PMs
De acordo com a família, o jovem tentou fugir para se proteger quando ouviu os disparos, mas testemunhas disseram que os policiais dispararam contra ele. Vítor Reis foi socorrido pelos próprios policiais e levado para o pronto-socorro de São Gonçalo, mas já chegou morto na unidade. Vanelci disse que os policiais ocultaram a informação de que o filho já estava sem vida. "No hospital, eu perguntei aos policiais o que tinha acontecido e eles me engaram. 'Nós demos um tirinho nele que pegou no ombro' e era mentira, pegou na barriga".
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil de São Gonçalo informou "que o paciente deu entrada ao Pronto-Socorro Central já em óbito, às 16h37, com orifício de entrada na região peitoral à esquerda".
Procurada pelo O DIA, a Polícia Militar informou que uma pistola, munições e um rádio comunicador foram apreendidos no local da ocorrência. Os demais envolvidos fugiram para o interior da comunidade. De acordo com o porta-voz da corporação, tenente-coronel Ivan Blaz, os policiais não disseram se Vítor estava com esses itens. "Isso não foi apresentado pelos policiais. Na verdade, o que foi dito é que, após o ataque e o confronto armado, os criminosos fugiram para o interior da comunidade, restando ali ao solo o Vítor e a pistola".