Rio - Caetano Veloso se manifestou nesta terça-feira sobre o assassinato brutal do congolês Moïse Kabagambe, na Praia da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, no dia 24 de janeiro. O cantor, um dos líderes da Tropicália, lamentou que o nome do quiosque, onde ocorreu o crime, tenha o mesmo nome do movimento cultural do fim dos anos 1960.
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"Chorei hoje lendo sobre o assassinato de Moïse Mujenyi Kabagambe num quiosque na Barra da Tijuca. Que o nome do Quiosque seja Tropicália aprofunda, para mim, a dor de constatar que um refugiado da violência encontra violência no Brasil", escreveu Caetano, acrescentando que seus colegas da Tropicália também repudiariam o crime.
"Para mim e certamente para Gilberto Gil, Capinam, Rita Lee, Tom Zé, Sérgio Dias, Gal Costa, Arnaldo Baptista, Julio Medaglia, Manuel Barenbein… E fere a memória de Rogério Duprat, Torquato Neto, Nara Leão, Guilherme Araújo… Sobretudo a de Hélio Oiticica, que criou o termo. Tenho certeza de que a família Oiticica está comigo nessa amarga revolta. O Brasil não pode ser o que há de mesquinho e desumano em sua formação".
A escritora e desembargadora Andrea Pachá também se pronunciou: "O Rio de Janeiro não continua lindo. Não há beleza que conviva com a selvageria que mata um jovem de 25 anos que ousa cobrar o seu salário. Luto interminável".
"Inacreditável e imperdoável", escreveu a cantora Fafá de Belém. A atriz Camilla Camargo se diz chocada com mais um crime brutal. "Dilacera a alma essas notícias". Já a atriz Debora Bloch postou uma imagem do jovem congolês acompanhada da hashtag: #justicepormoise.
O Governador do Rio Cláudio Castro disse que a morte de Moïse Kabamgabe não ficará impune e prometeu rigor na investigação. "O assassinato do congolês Moïse Kabamgabe não ficará impune. A Polícia Civil está identificando os autores dessa barbárie. Vamos prender esses criminosos e dar uma resposta à família e à sociedade. A Secretaria de Assistência à Vítima vai procurar os parentes para dar o apoio necessário", escreveu Castro no Twitter.
"Gostaria de pedir desculpas em nome da população da minha cidade e, até mesmo, da população brasileira. Todos nós estamos indignados com o que aconteceu. Estamos do lado de vocês. Este não é um retrato do povo brasileiro. A Prefeitura do Rio não vai poupar esforços para auxiliá-los no que precisarem. Vamos apoiar vocês para que se faça justiça e esse crime não passe impune", disse o prefeito.
Além disso, Paes colocou a estrutura da Prefeitura do Rio à disposição dos familiares para que recebam todo o apoio necessário. Estiveram presentes no encontro os secretários de Assistência Social, Laura Carneiro; de Cidadania, Renato Moura; e de Ordem Pública, Brenno Carnevale.
Entenda o caso
Moïse Kabagambe, que entrou no Brasil como refugiado, em 2011, teve as mãos e os pés amarrados e foi espancado com um porrete de madeira até a morte. Uma perícia no corpo de Moïse indica que a causa da morte traumatismo do tórax com contusão pulmonar e também vestígios de broncoaspiração de sangue. O documento revela lesões concentradas nas costas e o tórax aberto, com os órgãos dentro.
Belo e Tota trabalhavam em barracas na areia da praia; Dezenove era funcionário do quiosque vizinho. Os três teriam agredido Moïse, que já estaria embriagado, após o congolês tentar pegar mais cerveja da geladeira do Tropicália. Ele havia sido dispensado do trabalho no mesmo quiosque cinco dias antes, após ficar embriagado no turno do serviço, segundo o proprietário. Desde o dia 20, no entanto, ele trabalharia no quiosque vizinho.
Apesar disso, a família afirma que a briga teria começado após ele cobrar diárias atrasadas. A Polícia Civil ainda apura a motivação do crime e as investigações continuam.
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