Alunos voltaram ao colégio em modelo totalmente presencial nesta quinta-feiraMarcos Porto/Agência O Dia

 Rio - Após uma série de críticas, manifestações e a insatisfação de pais e alunos, o Colégio Pedro II finalmente retomou as aulas no modelo totalmente presencial nesta quinta-feira (3). A instituição voltaria junto com as outras redes de ensino, mas a retomada das atividades plenas acabou sendo adiada no dia 2 de fevereiro. A medida foi na contramão dos sistemas municipal, estadual e privado, que contam com turmas completas de alunos desde o dia 7 do mês passado.


No último dia 11, o Conselho Superior do colégio (Consup) decidiu adotar o modelo semipresencial, com divisão em 50% dos alunos, em grupos A e B, com alternância da presença semanal de cada um dos grupos no turno dos estudantes. Em um ato realizado um dia após a decisão, alunos, responsáveis e servidores demonstraram seu descontentamento, e apesar disso, o formato passou a valer no dia 14. Somente no dia 18, a instituição anunciou a retomada plena prevista para esta quinta-feira.

Na manhã de hoje, o sentimento de alegria e alívio tomou conta dos estudantes e responsáveis que chegavam no campus Tijuca I do Colégio Pedro II, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio. A autônoma Daiana Santos, mãe de Mariana Viana, de 10 anos, aluna do 3º ano do Ensino Fundamental, celebrou o retorno totalmente presencial. Segundo ela, a expectativa é que a instituição volte a ser referência em ensino como era antes da pandemia de covid-19.

"Agora, nesse primeiro dia de aula presencial, vi a felicidade da minha filha em ver os amiguinhos e espero que dessa vez o colégio funcione direitinho. Tenho fé que não precisarei tirar minha filha da escola, porque o Pedro II normal é maravilhoso, professores dedicados, atendimento ímpar aos pais. Minha expectativa é que o colégio seja o que sempre foi: um colégio ótimo, rígido e muito bom, ainda mais por ser um colégio público, ele é referência para muitas escolas por aí", afirmou a autônoma.

Pai de uma aluna do 4º ano do Ensino Fundamental, Valentina Carreira, de 10 anos, Marcelo Carreira, que trabalha com transporte escolar, lamentou o tempo que a filha ficou longe das salas de aula. Ele relatou que a menina estava ansiosa para voltar à escola e que agora eles irão trabalhar dobrado para que ela não tenha impactos mais graves em sua educação.

"Eu estou adorando, porque eu acho que não tem mais nenhum sentido ficar sem aula. Já voltou tudo. Para as nossas crianças, esse é um tempo perdido que não se recupera. Minha filha tem 10 anos, como vai recuperar essa fase de aprendizagem? Ela ficou bastante animada, bastante feliz. Tanto os pais, quanto as crianças ficaram numa euforia danada, porque queriam o retorno às aulas. Agora é correr atrás desse tempo perdido, trabalhar dobrado para recuperar. Graças a Deus esse retorno aconteceu e vamos torcer para que não pare mais", disse Marcelo.
A servidora pública estadual Thayana Mussalem, mãe da pequena Maria Flor Mussalem, de 7 anos, aluna do 1º ano, destacou que além de oferecer um melhor aprendizado para os alunos menores, que têm mais dificuldades com o ensino semipresencial, a retomada é importante para o convívio entre as crianças e para a interação com os professores. 
"Minha filha ficou super feliz em conhecer os amiguinhos pessoalmente, pois, anteriormente, só os via pela câmera no ensino remoto. Fez tão bem à ela, pois nem estudar ela queria mais. Estava de 'saco cheio' das aulas online, chorava para não ter que entrar. E agora, com esse retorno, é só entusiasmo, alegria, novidade, amizades novas. A minha expectativa com esse retorno é que as crianças possam voltar a desfrutarem do convívio social, do contato aluno-professor, dos aprendizados e por fim, entenderem que o covid vai continuar, os protocolos de segurança permanecem, mas nada vai impedí-los de conviver com outras pessoas", declarou Thayana. 

Diferente de outros responsáveis, a técnica em saúde bucal, Aline Abreu, mãe da aluna do 5º ano, Giovana Abreu, 11, afirmou não ter sido contra o modelo semipresencial. Ela disse que além de sua filha ter se adaptado bem ao formato, entendeu que a medida se deu por conta do risco de transmissão e contágio por covid-19 entre os funcionários com comorbidades.

"Eu não era contra (ao ensino semipresencial), porque o retorno não tinha sido feito antes porque tinha um decreto que impedia os servidores com comorbidades de retornarem e proibia o Pedro II de contratar, então ficava impossível, sem servidor, manter a carga horária normal ou então manter as crianças no colégio sem servidor. É uma sensação de alívio poder retomar, mas dentro da normalidade, os professores retornaram. A minha filha já estava indo no (modelo) híbrido, mas agora, com certeza, facilita ir no horário normal. Ela conseguiu acompanhar as aulas, claro que não é a mesma coisa, mas era o que dava", explicou a técnica.
De acordo com uma portaria do Colégio Pedro II, do dia 22 de fevereiro, será mantido ensino remoto para os casos em que for opção da família, respeitando o limite da carga horária docente. Entretanto, só podem continuar no modelo os estudantes que estejam em faixa etária não contemplada pela vacinação contra a covid-19; que tenham iniciado o esquema vacinal e estejam aguardando a segunda dose para
completar imunização, conforme calendário oficial; que comprovem que possuem comorbidades que os impeçam de receber a vacinação; ou aqueles com necessidades educacionais específicas, com ou sem comorbidades, em acordo com a família e o Núcleo de Atenção a Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE).
Prefeito do Rio criticou não retomada em diversas ocasiões
Além dos estudantes e dos pais, o não retorno pleno das aulas no Colégio Pedro II ganhou um crítico ativo: o prefeito do Rio, Eduardo Paes. No último dia 3, ele chamou de "covardia" a não retomada e disse que a situação o causava vergonha do país.
"É muita covardia com nossos jovens não ter aulas presenciais. Pior, alegam motivos epidemiológicos. Tenho muita vergonha do meu país nessas horas! Escolas têm que ser prioridade!", escreveu ele nas redes sociais. "Ele (reitor) quer colocar em risco o futuro dos nossos jovens ao negar aulas presenciais sem motivos e nós não vamos assistir essa atitude de camarote", voltou a declarar o prefeito, no último dia 14.
Também no dia 14, em entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura, ele afirmou que a instituição atende a "interesses sindicais corporativos" ao não aderir ao modelo presencial. No dia 18, com o anúncio da volta às aulas totalmente presencial na instituição, o prefeito usou as redes sociais para comemorar. "Amém! Nunca é tarde para se ter algum respeito pelo futuro de nossos jovens!", escreveu ele.
*Colaborou Marcos Porto