Paes classificou a concessão do BRT como complexa e o sistema difícil de operar Alexandre Macieira/Prefeitura do Rio

Rio - O prefeito Eduardo Paes, anunciou o fim da concessão do sistema BRT. Atualmente, o modal está sob intervenção da prefeitura. A declaração foi feita nesta segunda-feira (14) durante entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura, quando ele respondia a uma pergunta sobre a má qualidade do serviço de transportes públicos da cidade. O chefe do executivo municipal também foi questionado sobre o retorno aos cofres públicos dos R$80 milhões investidos no sistema.
"Nos próximos dias, não sei nem se eu podia estar falando isso aqui, mas agora vou dizer: a gente está decretando a caducidade do BRT, estamos acabando com a concessão do BRT. E, é óbvio que isso, depois com o tempo, você vai ter sim um ajuste de contas. Os empresários, provavelmente, vão dizer que o reajuste das passagens não acontece desde 2017 ou 2018, a prefeitura vai dizer que gastou R$80 milhões aqui, e isso vai, provavelmente, gerar um debate que vai demorar muito tempo. Mas, o que eu não posso fazer, é deixar a população sofrendo", afirmou o prefeito.
Procurada, a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) informou que ainda não vai comentar a medida. O BRT disse que detalhes da caducidade devem ser divulgados no fim da semana. Ainda na entrevista, Paes classificou a concessão como complexa, o sistema difícil de operar e falou que a solução para o BRT é lenta e só deve começar a ser vista em 2023. "Nós vamos consertar isso, pode ter certeza, mas, infelizmente, já passou um ano e eu diria que ainda vai passar outro. Eu diria que só lá para 2023 que a gente vai começar a perceber uma melhora no sistema do BRT", disse Paes.
No programa, também foi abordada a bilhetagem digital dos ônibus. No dia 7 de dezembro de 2021, a Prefeitura do Rio realizou a sessão de abertura de proposta para a concessão de um novo sistema de bilhetagem de transportes no município. Apesar de duas empresas terem manifestado intenção de participar, ambas decidiram não entregar os envelopes, o que levou a Comissão de Licitação a declarar o encerramento da sessão.
A escolha de uma nova gestora faz parte da estratégia da prefeitura para reorganizar o sistema de transporte no município. No fim de novembro, a prefeitura obteve na Justiça a aprovação do efeito suspensivo que impediu a Riocard de participar da licitação da bilhetagem digital. A empresa é atualmente a controladora dos serviços, mas em um dos primeiros atos de sua terceira gestão, o prefeito anunciou que faria mudanças no sistema, a fim de dar maior transparência às contas. "Eu desconfio que tenha havido um boicote", suspeitou Paes.
Segundo o prefeito, após o insucesso, a prefeitura passou a dialogar mais com o setor privado e com outros atores econômicos para fazer mudanças no edital de concessão. O segundo edital para o novo modelo de bilhetagem eletrônica de transportes da cidade do Rio está sendo reformulado e já tem data para abertura de envelopes, quando as empresas concorrentes apresentarão suas propostas: 26 de abril. Apesar das alterações, Paes garantiu que quem tiver a concessão dos ônibus, não vai operar a bilhetagem, mesmo que seja necessário adotar um sistema estatal.
"Eu quero crer que nós vamos encontrar a solução. A única coisa que não vai acontecer, é que quem tiver a concessão não vai operar o sistema de bilhetagem. Nem que eu tenha que tornar, tudo o que eu não quero, o sistema de bilhetagem estatal. Eu acho que seria uma tragédia, a gente já viveu essa experiência no Rio. Mas, se necessário for, farei um sistema estatal."
A empresa que ficar responsável pela bilhetagem digital vai controlar o fluxo de passageiros e a arrecadação das tarifas. O edital do novo formato permite somente empresas que não fazem parte do sistema de transporte público na Região Metropolitana serem incluídas na licitação. A expectativa é de que o serviço comece a partir do BRT.
Paes volta a criticar Colégio Pedro II sobre retorno semipresencial
No Roda Viva, o prefeito voltou a criticar o Colégio Pedro II por ter decidido voltar às aulas nesta segunda-feira (14) no modelo semipresencial, com alternância da presença semanal dividida por grupos, indo na contramão das escolas municipais, estaduais e particulares que começaram o ano letivo presencialmente na última segunda-feira (7). A medida gerou insatisfação entre alunos e responsáveis, que chegaram a realizar manifestações pedindo o retorno pleno.
Durante a entrevista, Paes afirmou que a instituição atende a "interesses sindicais corporativos" ao não aderir ao modelo presencial, quando respondia a uma pergunta sobre as eleições ao Governo do Estado deste ano e mencionou dificuldades que o Rio de Janeiro enfrenta.
"Os desafios do estado são muito profundos. Será que a gente estava com a volta às aulas presencial nesse momento ou estaríamos atendendo a determinados interesses sindicais corporativos de que as aulas têm que permanecer suspensas, como a gente está vendo acontecer de maneira vergonhosa na instituição federal Pedro II?", apontou o prefeito. Procurado, o Colégio Pedro II disse em nota que "a Reitoria não irá se pronunciar" sobre as declarações.
No último dia 3, Paes chamou de covardia a não retomada e disse que a situação o causa vergonha do país. "É muita covardia com nossos jovens não ter aulas presenciais. Pior, alegam motivos epidemiológicos. Tenho muita vergonha do meu país nessas horas! Escolas têm que ser prioridade!", escreveu ele nas redes sociais. "Ele (reitor) quer colocar em risco o futuro dos nossos jovens ao negar aulas presenciais sem motivos e nós não vamos assistir essa atitude de camarote", voltou a declarar o prefeito, nesta segunda-feira (14).
'Eu acho que ele conduziu muito mal', diz Paes sobre gestão Bolsonaro da pandemia
Ainda na entrevista, o prefeito do Rio falou sobre o discurso rígido adotado para pais que ainda não vacinaram seus filhos contra a covid-19. O calendário de imunização por idade já chegou ao fim, mas, atualmente, de acordo com o Painel Rio COVID-19, apenas 57% das crianças com idades entre 5 a 11 anos receberam a primeira dose. A baixa adesão fez com que a prefeitura iniciasse uma busca ativa e uma campanha de vacinação nas escolas. Para Paes, o posicionamento contrário à vacinação do presidente Jair Bolsonaro provocou dúvidas na população.
"Teses delirantes têm que ser combatidas com muita ênfase e, às vezes, com palavras duras, para que as pessoas entendam aquilo. Eu acho que o presidente Bolsonaro, eu quero sempre ter respeito institucional ao presidente, eu sou prefeito da cidade, ele é presidente da República, mas eu acho que ele conduziu muito mal em toda a pandemia e, principalmente, na construção de uma narrativa daquilo que ele comunicava. Todos nós temos o papel de líder político e o líder da nação é o presidente da República, as pessoas ouvem, prestam atenção, olham o que ele diz. (...) A disputa política, o debate, isso tudo faz parte, mas brincar com a vida das pessoas é demais."