Material apreendido na operação sendo levado pela períciaMarcos Porto/Agência O Dia

Rio – Cinco pessoas foram presas e outras sete conduzidas para a delegacia na segunda fase da Operação Calígula deflagrada, na madrugada desta sexta-feira (14), pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) em endereços localizados em bairros das zonas Oeste e Sul. A ação busca combater a organização criminosa liderada pelo contraventor Rogério de Andrade e seu filho Gustavo de Andrade, que explora jogos de azar. Ambos estão presos desde o dia 4 de agosto.

Na ação, um bingo clandestino foi fechado em uma casa de luxo em São Conrado, conhecida como Mansão São Conrado Las Veras. No local, máquinas do jogo do bicho e 79 máquinas caça-níqueis foram apreendidas em um dos cômodos da residência e, em uma delas, os agentes encontraram mais de R$ 4 milhões. Os agentes ainda apuram se o valor era do faturamento total da máquina. Ainda foram encontrados e levados para apurações chips telefônicos, documentos, aparelhos celulares e computadores.

As sete pessoas, apontadas como apostadores, estavam na casa desde a madrugada e foram levadas para a 15ª DP (Gávea) para prestar esclarecimentos.
As investigações que levaram à segunda fase da Operação Calígula, feitas pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ), com apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ), apontaram que as atividades da organização criminosa liderada por Rogério e Gustavo seguiram normalmente, explorando jogos de azar nas localidades dominadas pelo grupo, apesar da prisão de seus líderes. Segundo o MPRJ, o grupo explora jogos de azar em uma complexa estrutura baseada na corrupção de agentes públicos, prática de atos de violência e lavagem de dinheiro.

As novas apurações mostram também que servidores da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro (Seap), que administra a unidade prisional em que estão Rogério e Gustavo, estavam na folha de pagamento do grupo, recebendo mensalmente valores em troca de favores aos pagadores e de outros comparsas detidos em penitenciárias do Estado.


Entenda a Operação Calígula

A Operação Calígula teve início em 10 de maio deste ano, com 36 mandados de busca e apreensão no estado, que miraram organização criminosa relacionada ao Jogo do Bicho. Entre os alvos estavam Rogério de Andrade, já apontado como um dos líderes; policiais militares, entre eles quatro oficiais; e policiais civis, sendo dois delegados: Adriana Belém e Marcos Cipriano. Estabelecimentos comerciais, restaurantes e imobiliárias também foram palco das buscas, suspeitos de lavagem de dinheiro.
Indícios desses valores serem direcionados ao controle da jogatina - Divulgação
Indícios desses valores serem direcionados ao controle da jogatinaDivulgação

Adriana Belém foi presa após agentes encontrarem R$ 1.765.300 em espécie sacolas de grife em seu apartamento, em um condomínio de alto padrão na Barra da Tijuca. Adriana chegou ao presídio em Benfica, no dia 11 de maio, utilizando um tênis da marca de luxo Gucci e um óculos da também luxuosa Versace.

No mesmo dia, a Prefeitura do Rio exonerou a delegada do cargo de assessora da Secretaria Municipal de Esportes do Rio de Janeiro.

Ligação entre Rogério de Andrade e Ronnie Lessa, ex-PM preso acusado de matar Marielle Franco

Segundo investigações do MPRJ, o grupo criminoso de Rogério Andrade e seu filho Gustavo tem como membro Ronnie Lessa, preso no Presídio Federal de Campo Grande pela execução da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes
Os promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) disseram em maio que o bicheiro está na linha de investigação como o possível mandante da morte da vereadora Marielle Franco.
Ronnie Lessa - Divulgação / MPRJ
Ronnie LessaDivulgação / MPRJ


A parceria entre Rogério de Andrade e Ronnie Lessa é apontada nas denúncias como antiga, havendo elementos de prova de sua existência ao menos desde 2009, quando Ronnie perdeu uma perna em atentado à bomba que explodiu seu carro. Ele já atuava como segurança do contraventor. Em 2018, ano da morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, os dois denunciados se reaproximaram e abriram uma casa de apostas no Quebra-Mar, na Barra da Tijuca. Segundo os investigadores, elementos indicavam a previsão de inauguração de outras casas na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

O bingo financiado por Rogério de Andrade e administrado por Ronnie Lessa, Gustavo de Andrade e outros comparsas foi fechado pela Polícia Militar no dia de sua inauguração. No entanto, as máquinas apreendidas foram liberadas e a casa foi reaberta após atos de corrupção com policiais civis e militares.