Juliano Balbino de Melo foi morto a tiros na frente de uma padaria no bairro LameirãoReprodução

Rio - Um relatório do Observatório da Violência Política e Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (OVPE-Unirio) revelou que, nos últimos cinco anos, 55 políticos foram assassinados no RJ. Morto a tiros em frente a uma padaria na tarde de quinta-feira (23), o vereador de Paty do Alferes, Juliano Balbino de Melo, de 35 anos, é a vítima mais recente de crimes cometidos contra ocupantes de cargos públicos no Estado. 
Segundo a polícia, o parlamentar foi atingido por quatro disparos na cabeça. Ele chegou a ser socorrido, mas morreu a caminho do Hospital Municipal Luiz Gonzaga. O sepultamento de Juliano será às 17h, no Cemitério do Barra Branco. De acordo com a Civil, a autoria do crime ainda é desconhecida.
A prefeitura de Paty do Alferes  decretou ponto facultativo nesta sexta-feira (24), a partir das 12h, por conta da morte do vereador. Além disso, o município cancelou o cerimonial de abertura da Festa do Tomate, programado para às 17h. Através das redes sociais, a prefeitura publicou uma nota de pesar lamentando a morte de Juliano. Na postagem, o município ressaltou a trajetória do parlamentar e enfatizou a contribuição dele para o desenvolvimento da cidade durante o trabalho feito na Câmara. Foi decretado luto oficial de três dias.
Ainda de acordo com os dados da Unirio, foram registrados 46 atentados de políticos e familiares no estado. O grupo de pesquisadores da universidade leva em consideração ex-políticos, candidatos, pré-candidatos, ex-candidatos e funcionários da administração pública no levantamento. O caso mais recente foi do deputado estadual Márcio Gualberto, em março. O parlamentar voltava para casa quando foi interceptado por outro veículo na Rua Marechal Marciano, em Padre Miguel, na Zona Oeste.
Segundo o relato, dois bandidos saíram e atiraram contra o carro de Márcio Gualberto, que é blindado. O motorista do deputado conseguiu reagir imediatamente dando ré e, em seguida, o segurança atirou contra os bandidos, que fugiram do local. Ninguém ficou ferido durante o tiroteio. 
De acordo com o estudo feito, em 2021, o Rio registrou o maior número de homicídios contra ocupantes de cargos públicos, totalizando 15 assassinatos. Em relação aos atentados, 2022 foi o ano com mais casos. Ao todo, foram contabilizados 11 ataques.

Outros casos

Em novembro do ano passado, o vereador Cici Maldonado, de 61 anos, foi morto a tiros quando chegava em casa, no Porto da Madama, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. A informação foi divulgada pelo perfil oficial do parlamentar, que disse que ele sofreu uma tentativa de assalto. O ataque aconteceu por volta das 23h e a vítima estava com dois assessores, que não se feriram.
No mês anterior o pré-candidato a vereador de Queimados, na Baixada Fluminense, Clayton Damaceno, foi executado na Rua Olímpia Silva, no bairro Inconfidência. Damaceno havia passado o dia fazendo campanha pelos bairros de Queimados, quando ele e sua secretária, Paula Ribeiro, pararam em uma sorveteria, próximo à praça da Bíblia, e, por volta das 23h, foram surpreendidos por criminosos que efetuaram vários disparos contra os dois.
Em 1º de outubro, a deputada Lucinha (PSD) estava em um sítio no Rio da Prata, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, quando homens armados invadiram o local e renderam seus seguranças. O grupo estaria fugindo de uma comunidade que fica próximo ao espaço de eventos. Após a abordagem, a parlamentar foi obrigada a levar os criminosos no seu próprio veículo, um carro oficial da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), em direção à comunidade da Vila Kennedy. Ao chegar ao local, ela foi libertada pelos bandidos, e o carro encontrado pouco depois pela PM.
Em 29 de agosto, o ex-candidato a vereador Valdecir Ramario da Silva, de 50 anos, foi morto a tiros, na Rua Tibiricá, no bairro do Monjolos, em São Gonçalo. Segundo relatos, suspeitos teriam feito cerca de 40 disparos e ele foi encontrado dentro de um veículo com marcas dos tiros no corpo. A vítima era comerciante e concorreu ao cargo nas eleições municipais de Itaboraí, na Região Metropolitana, em 2020, pelo Partido Social Cristão (PSC), mas não foi eleito.
No dia 25 do mesmo mês, a família do vereador do Rio Marcelo Diniz (Solidariedade) foi alvo de um ataque a tiros. Imagens de câmeras de segurança flagraram o momento em que criminosos fortemente armados atiraram contra sua casa, na comunidade da Muzema, no Itanhangá, Zona Oeste. O caso aconteceu quando o pai, a mãe e mais dois amigos estavam no imóvel, mas o parlamentar estava em uma agenda externa. No atentado, um funcionário da prefeitura acabou baleado na perna.
Em 7 de agosto do ano passado, o ex-vereador Jair Barbosa Tavares, de 53 anos, conhecido como Zico Bacana, e seu irmão, Jorge Barbosa Tavares, foram mortos a tiros, quando estavam em uma padaria da Rua Eneas Martins, esquina com a Francisco Portela, em Guadalupe, na Zona Norte. Suspeitos em um veículo fizeram pelo menos 30 disparos e o garçom Marlon Correia dos Santos, 35, que passava pelo local, também acabou morrendo. A família acusou o Comando Vermelho (CV) pelas mortes, já que Guadalupe é um dos bairros onde fica o Complexo do Chapadão, palco de conflitos entre integrantes da facção e do Terceiro Comando Puro (TCP) pelo controle territorial.
Zico Bacana era ex-policial militar e foi citado na CPI das Milícias, em 2008, por uma possível ligação com milicianos que atuavam na região. O ex-parlamentar chegou a ser ouvido como testemunha no processo que investiga o assassinato de Marielle Franco. O político já havia sido alvo de uma tentativa de homicídio em novembro de 2020, quando foi baleado de raspão na cabeça, em um bar de Ricardo de Albuquerque, também na Zona Norte.
Ainda no mês de agosto, dessa vez no dia 1º, o ex-candidato a vereador de Queimados, Ramon Henrique Durães Lima, de 37 anos, foi executado a tiros, no bairro Fanchen, no município da Baixada Fluminense. O homem era comerciante e foi encontrado sem vida dentro do próprio estabelecimento, na Rua Camilo Cristofano.
No dia 26 de maio, o ex-assessor do vereador Carlinhos da Barreira (PSDC), Felipe Reul, foi assassinado na porta de casa, na Rua Senador Hydekel de Freitas, no Jardim Primavera, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Em 2021, o parlamentar para quem o homem trabalhou foi preso por suspeita de agiotagem, mas teve a prisão revogada e retornou à Câmara Municipal de Caxias, este ano. O político alega que foi vítima de uma falsa denúncia.
Também em maio, no dia 5, o vereador e presidente da Câmara Municipal de Itaguaí, na Região Metropolitana, Gilberto Chediac Leitão Torres, conhecido como Gil Torres (União Brasil), foi atacado a tiros na RJ-099, na altura do bairro de Piranema, mas não ficou ferido. O veículo dele chegou a ser atingido pelos disparos, mas por ser blindado, o político não foi atingido.
No início do ano, em 24 de fevereiro, Jorge Rodrigo de Oliveira Fernandes, de 40 anos, irmão do vereador Paulinho Juventude (PDT), foi executado com mais de 20 tiros, nas proximidades na Praça Caramuru, no bairro São Bernardo, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Uma câmera de segurança flagrou a ação dos criminosos, que aguardaram em um carro até que o homem entrasse na rua. Depois que a vítima vira a esquina, eles aceleram até chegar perto, descem do veículo e atiram. A vítima era gerente de um galpão de caminhões e trabalhava no local havia cerca de quatro anos.