Renato em seu trabalho - Arquivo Pessoal
Renato em seu trabalhoArquivo Pessoal
Por Raimundo Aquino

Rio - Renato da Silva Moraes Júnior foi o último preso do caso da milícia de Santa Cruz que deixou o Complexo Penitenciário de Bangu, na Zona Oeste da cidade, nesta quinta-feira. A situação do jovem de 23 anos, que trabalha como repositor de mercadorias em um sacolão, chamou a atenção dentre todos os 159 detidos na operação da Polícia Civil, no último dia 7, por ele supostamente ter uma deficiência mental. Ele saiu do presídio por volta das 22h.

Nesta sexta, os oficiais de Justiça vão continuar a liberação dos 23 presos que ainda faltam, dentre os 137 beneficiados pela decisão do juiz Eduardo Marques Hablitschek, da 2ª Vara Criminal de Santa Cruz, nesta quarta. "A Polinter não conseguiu concluir as consultas de todos os beneficiados", conta Leonardo Souza, advogado que acompanha o caso da família de Renato. "O oficial de Justiça só leva o alvará à prisão depois da liberação da Polinter", completa.

Leonardo foi quem deixou Renato em casa com a família, em Santa Cruz. O advogado conta que a mãe do jovem não foi até a porta do presídio, como fizeram várias famílias, porque teve uma crise nervosa. O advogado se comoveu com a história do repositor.

"Após 15 anos advogando, mexeu comigo! Me emocionei e o sentimento é de dever cumprido e tristeza de ver os direitos fundamentais do ser humano serem negligenciados", ele desabafa. "A lição principal desse caso é que estamos invertendo os valores mais sagrados que temos. Existe uma vontade coletiva de punição a qualquer custo, desde que não seja dentro da casa de quem prega esse rigor. Quando o problema é dentro da sua casa, aí os critérios mudam. Quando a Constituição não é respeitada vemos este tipo de injustiça", acrescenta.

Dia de festa

Após a revogação da prisão, nesta quarta, os presos começaram a ser liberados na tarde desta quintaAs famílias dos detentos foram esperá-los na porta da cadeia desde o início da manhã. O Tribunal de Justiça explicou que os alvarás de soltura iriam se expedidos a cada preso, pois não se trata de um alvará único para todos.

"Trata-se de um processo que não tem como ser tão rápido, já que todos devem ser expedidos e assinados individualmente. De qualquer forma, mesmo após a chegada dos alvarás, há procedimentos também a serem realizados pela Seap, que fica na ponta final destes procedimentos até a saída dos presos", o TJ disse, em nota, ontem cedo.

Carlos André da Silva de Souza recebido pela família com alegria - Daniel Castelo Branco

Para o advogado Leonardo Souza, o Ministério Público verificou a existência de diversos excessos cometidos pela Polícia Civil na ação em Santa Cruz. Segundo ele, com um processo de filtragem, o MP está tentando salvar parte da operação.

"A liberdade foi concedida. Vamos trabalhar para a punição dos culpados. O MP está fazendo uma manobra para encobrir os erros cometidos", contou.

A Defensoria Pública informou que a decisão "corresponde ao início da correção dos graves erros e injustiças ocorridos na operação".

Artista foi o primeiro

O artista circense Pablo Dias Bessa Martins, de 23 anos, o Pablo Prynce, deixa o presídio de Bangu por determinação da Justiça - Alexandre Brum / Agencia O Dia

O artista circense Pablo Dias Bessa Martins, de 23 anos, foi o primeiro dos 159 presos no último dia 7 libertado. Ele deixou a cadeia no último sábado, após ter a prisão revogada pela JustiçaPablo tinha uma viagem marcada para a Europa na última terça, onde vai passar uma temporada se apresentando no continente.

A prisão

Presos acusados de milícia em Santa Cruz - WhatsApp O DIA (98762-8248)

A operação policial de 7 de abril aconteceu em um sítio em Santa Cruz, onde havia um show de pagode. Na ocasião, 167 pessoas foram detidas, dentre elas oito menores, que foram soltos cinco dias depois.

Além das prisões, a polícia apreendeu 24 armas de fogo - entre elas fuzis, pistolas, revólveres -, granada, 76 carregadores, 1.265 munições de calibres variados, coletes balísticos, fardamentos, toucas ninjas, e 11 veículos.

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