Da esquerda para a direita: Alexandre, Lucas e Fernando
Da esquerda para a direita: Alexandre, Lucas e FernandoArquivo Pessoal
Por Karen Rodrigues*
Rio - Há mais de três meses, Fernando Henrique, de 11 anos, Alexandre Silva, de 11 anos, e Lucas Matheus, de 8 anos, estão desaparecidos. Nesta sexta-feira (9), completam-se 100 dias sem notícias sobre o paradeiro dos meninos, que desapareceram no dia 27 de dezembro de 2020, no bairro Areia Branca, em Belford Roxo, na Região Metropolitana do Rio.
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Segundo relatos das famílias, Alexandre, Lucas e Fernando estavam brincando em um campo de futebol perto da casa deles, em Jardim Dimas Filho, em Belford Roxo, e depois foram tomar café na casa de Alexandre. Amigos próximos afirmam que, depois do lanche, os três avisaram que estavam indo para a Feira de Areia Branca, que fica a cerca de 2 km do local, e desapareceram.
A mãe do Alexandre, Rana Jéssica, disse ao DIA que estão sendo dias difíceis para os familiares, que não encontram nenhuma solução do caso. "Está sendo difícil sem nenhuma resposta, nenhuma solução. O caso do menino Henry foi rapidamente solucionado e dos meninos nada. Está sendo difícil para todo mundo. Já vai para quatro meses e nada", conta.
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Rana contou que a irmã mais nova de Alexandre pergunta por ele e chora de saudades. "Eu sinto falta dele no jantar, sinto muita falta dele aqui brincando. Ela (a irmã de Alexandre) pergunta direto sobre o irmão, às vezes chora", desabafa.
Investigações
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Segundo a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), os agentes iniciaram diligências imediatamente após a comunicação do desaparecimento, com a formalização do primeiro depoimento e confecção do registro de ocorrência.
"Os policiais fizeram buscas, verificaram denúncias em diversos bairros do Rio de Janeiro e municípios da Baixada Fluminense e ouviram depoimentos de familiares e testemunhas", disse a DHBF, em nota.
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De acordo com a DHBF, as informações iniciais indicaram que as crianças teriam saído de onde moram, na comunidade Castelar, em Belford Roxo, para a Feira de Areia Branca, percurso de aproximadamente 2,7 quilômetros, em que todos os diversos caminhos possíveis foram percorridos e onde foi registrada a passagem das crianças em vídeo.
"Os policiais realizaram diligências na comunidade com objetivo de coletar informações para localizar as crianças, inclusive, com apoio da CORE e do Batalhão de Choque da Polícia Militar. A equipe da DHBF fez mais de 80 diligências, além de buscas em locais distintos ao longo desses meses, inclusive, na cidade do Rio de Janeiro, em que imagens foram coletadas e apresentadas para as famílias".
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Um vizinho chegou a ser entregue à polícia, no dia 12 de janeiro, sob a suspeita de estar envolvido no sumiço dos meninos. Ele passou uma noite na sede da DHBF e prestou depoimento. O homem foi capturado e torturado por traficantes e, segundo informações, teria confessado a morte das crianças em um ritual de magias.
Em nota, a Polícia Civil esclareceu que o suposto envolvimento do vizinho com o crime se tratava de uma notícia falsa. Segundo apuração dos investigadores, ele não tinha qualquer relação com o caso e o sangue encontrado em uma roupa na casa dele não era de nenhuma das crianças. O exame do Instituto de Pesquisa e Perícias em Genética Forense (IPPGF) revelou que o sangue pertencia à companheira do homem.
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Agentes da DHBF e da Polícia Militar também realizaram diligências para identificar integrantes da organização criminosa que atua na localidade, trabalhando uma linha de investigação sobre possível participação de traficantes da região no desaparecimento.
"A suspeita foi cogitada após levantamento de informações e depois que criminosos torturaram um homem, indicando falsamente ser o responsável pelo desaparecimento dos meninos e imputando sua captura aos moradores. Além disso, os traficantes incitaram a população a atear fogo em um ônibus como forma de desviar o foco das investigações. Na ocasião, três pessoas foram presas por policiais civis da 54ª DP (Belford Roxo)", informou a instituição, em nota.
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O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) chegou a encontrar, no início de março, uma imagem dos meninos andando pela Rua Malopia, na Vila Medeiros, em Belford Roxo. Os investigadores trabalharam com a hipótese de que as crianças tinham sido capturadas nessa região da cidade.
O registro da câmera de segurança que filmou o momento em que os meninos andam pela Rua Malopia tinha sido apreendido pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense durante as investigações. Contudo, os policiais não encontraram a parte do vídeo em que os meninos aparecem. O MPRJ pediu o material pouco tempo depois e conseguiu encontrar as imagens dos jovens.

Em nota, a Polícia Civil afirmou que o caminho já constava nas linhas de investigação da unidade. Ela mencionou ainda que a gravação não traz prejuízo para investigação.
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A DHBF informou que continua as diligências e ações de inteligência buscando esclarecer o caso e encontrar as crianças.
A 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada dos Núcleos Duque de Caxias e Nova Iguaçu informou que, até o momento, não há novidade a ser divulgada sobre o caso e que as investigações prosseguem em conjunto com a DHBF.
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Apoio às famílias
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro disse que, em casos de desaparecimento de pessoas, permite o acesso das famílias à informações constantes no inquérito, desde que não sejam sigilosas para não atrapalhar o sucesso da investigação.
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"Embora a defensoria esteja acompanhando as investigações, no momento não há uma linha clara de investigação após a divulgação das imagens dos meninos andando despreocupadamente no dia do desaparecimento pela calçada de um bairro vizinho de onde eles residiam", informou o órgão.
Além disso, a Defensoria Pública está verificando se as determinações constantes da Política Nacional e da Política Estadual de busca de Pessoas Desaparecidas estão sendo cumpridas, como o encaminhamento dos familiares para o apoio psicossocial e a comunicação do registro policial do desaparecimento à Polícia Federal, à Polícia Rodoviária Federal, Conselho Tutelar e à FIA.
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Rana Jéssica, mãe do Alexandre, assim como familiares de Fernando Henrique e Lucas Matheus recebem assistência social através da Superintendência de Prevenção e Enfrentamento ao Desaparecimento de Pessoas.
*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes