'Uma cratera enorme no meu coração', lamenta mãe de adolescente atropelado por modelo
João Gabriel Cardim Guimarães morreu após ser atingido por Bruno Krupp, que conduzia motocicleta sem placa e habilitação, em alta velocidade, na Avenida Lúcio Costa, na Barra
João Gabriel e a mãe, Mariana Cardim - Reprodução/TV Globo
João Gabriel e a mãe, Mariana CardimReprodução/TV Globo
"Antes de a gente atravessar, a gente olhou e estava muito distante, muito distante, mesmo, os carros. Não tinha nenhuma projeção de nada perto da gente, mas, em segundos, a moto estava em cima dele e eu já perdi a noção do que eu estava vendo. Eu vi o meu filho estendido no chão, pedindo socorro. Eu comecei a gritar, pedir ajuda a todo mundo", lembrou a mãe da vítima, em entrevista ao 'Fantástico' da TV Globo, neste domingo (7).
Emocionada, a mulher recordou que pensou na frase "foi assim como ver o mar, a primeira vez que meus olhos se viram no seu olhar", da música de Flávio Venturini, quando viu o menino pela primeira vez, em seu nascimento. "E foi diante do mar que eu tive que me despedir do meu filho", lamentou Mariana. A mãe contou ainda que uma médica mineira que passava pelo local foi a primeira a ajudá-los. "Essa médica foi uma anja, ela foi de uma grandeza enorme. Segurou na minha mão, me acalmou".
Também em entrevista ao 'Fantástico', a profissional, identificada como Priscila Rocha, contou como foi o socorro do adolescente e descreveu João Gabriel como um menino doce. "Eu iniciei as massagens cardíacas e em pouco tempo ele abriu os olhos e comentou que estava doendo um pouco o tórax. Eu perguntei o nome dele, vi que ele estava consciente. Eu tentei acalmá-lo, acalmar a mãe, também. (...) Uma coisa que também me chamou muita atenção, é como o João é um menino doce. Eu falava: 'João vai ficar tudo bem' e ele olhava para o lado e sorria para a mãe dele, para ela ficar calma, ele queria ver ela calma".
Com o impacto do atropelamento, o adolescente teve uma perna amputada. João e Bruno foram socorridos pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, também na Barra da Tijuca. A vítima chegou a ser levada para o centro cirúrgico da unidade de saúde, mas não resistiu. O modelo foi atendido e deixou o local no dia seguinte.
De acordo com a Polícia Civil, o atropelamento foi registrado inicialmente como lesão corporal na direção de veículo automotor, mas com a morte da vítima, seria investigado como homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Entretanto, a juíza estabeleceu que Bruno deve responder pelo crime de homicídio doloso eventual no trânsito, quando assume o risco de matar. Na decisão, a magistrada explica que há indícios suficientes para o submeter ao julgamento pelo Tribunal do Júri.
Três dias antes do atropelamento, ele foi parado em uma blitz da Lei Seca, sem habilitação, com a mesma motocicleta sem placa e se recusou a fazer o teste do bafômetro. O Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) relembrou o episódio e reforçou que não foi suficiente para o modelo rever suas atitudes, o levando a cometer mais uma conduta ilegal, desta vez, fatal.
"Quando você dirige dessa forma, numa velocidade exacerbada, não era nem um pouco acima, era exacerbada, numa via como a Lúcio Costa, em que há várias faixas de pedestre, de travessia, você está assumindo o risco de causar um resultado como esse, com homicídio", afirmou o delegado Aloysio Falcão, da 16ª DP, à TV Globo.
"Não pode seguirmos o mesmo peso de um homicídio doloso, que ele tinha a intenção de matar, eu acho isso um exagero da autoridade policial. Eu tenho várias testemunhas para serem ouvidas, que estavam com ele, que podem afiançar que não houve dolo. Talvez uma infantilidade, um momento impensado, coisa de um jovem que nunca teve um brinquedo, uma moto, um carro. Exibicionismo, né?", justificou o advogado de Krupp, Wiliam Pena, ao 'Fantástico'.
O Plantão Judiciário do TJRJ não concedeu o habeas corpus pedido pela defesa, porque o desembargador Milton Fernandes de Souza entendeu que o pedido não se enquadra nas situações para ser analisado em plantão e não apresenta "urgência qualificada", podendo ser apreciado por meio dos trâmites regulares. Segundo o magistrado, a competência deve ser restrita à excepcionalidade. Apesar da morte do filho, Mariana revelou não guardar mágoas de Bruno.
"Eu, por incrível que pareça, não tenho rancor desse rapaz. Quando a gente é criança, nosso pai e nossa mãe não botam a gente de castigo? Talvez ele tenha, sim, que pagar na lei dos homens. Mas eu, Mariana, não quero julgá-lo. A gente vive numa sociedade em que a gente tem justiça, se essa justiça precisa ser feita, até para que outra mãe não esteja aqui daqui a um tempo, sentindo a minha dor, que ela seja", declarou a mãe da vítima.
Morte de adolescente expõe denúncias contra modelo
Em sua maioria, os relatos iniciam com as vítimas contando que flertavam com o modelo, mas que Bruno era agressivo e as forçaram a finalizar o ato sexual. Segundo as narrativas, elas não o denunciaram formalmente à Polícia Civil por medo. Em entrevista ao 'Fantástico', três das supostas vítimas contaram os momento de violência sexual que teriam vivido com o influenciador.
"Eu fui para Niterói para encontrar com ele, na casa dele, porém ele foi muito desagradável comigo a noite inteira. Eu dormi lá, porque eu já tinha ido para dormir, morava longe. Eu dormi e ele saiu e depois voltou bêbado, querendo transar comigo. Ele me segurou forte no braço e não me deixou sair de jeito nenhum", lembrou uma das mulheres, que disse que naquele momento entendeu que havia sido estuprada.
"A gente ficou, mas a gente já tinha se beijado outras vezes. Só que ele começou a forçar muito e eu falei: "eu não quero, eu não quero transar, pode parar". Aí, ele me jogou, tirou minha roupa à força, segurou o meu braço e aí se forçou. Eu gritava muito, porque estava doendo, ele estava me machucando. Mas ele não parou", relatou uma jovem, que afirmou que o abuso teria acontecido quando ela tinha 16 anos, após uma festa.
Uma das mulheres chegou a fotografar os ferimentos em sua boca, que teriam sido feitos por Krupp. "Foi horrível, ele foi extremamente agressivo. Eu acordei com a boca cheia de sangue pisado por dentro, toda estourada, toda roxa, meu corpo com vários hematomas roxos. Precisou acontecer uma coisa horrível para expor essa pessoa e todos os outros crimes que ele cometeu".
A defesa de Bruno nega todas as acusações. De acordo com o advogado Willian Pena, as denúncias não formalizadas na delegacia tratam-se de pessoas querendo se beneficiar da situação. "Não falo sobre denuncias feitas no Instagram, isso é até crime. Denunciar sem respaldo do Ministério Público e registro na delegacia é crime. Essas pessoas estão se beneficiando das dores da família. Por que não foi na delegacia durante todos esses anos? Para mim as essas pessoas estão sendo levianas, eu não tenho conhecimento sobre esses casos e nem o Bruno", relatou o advogado em entrevista ao O DIA.
Em julho deste ano, uma mulher de 21 anos registrou uma queixa de estupro contra Bruno na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Jacarepaguá. Em depoimento, ela afirmou que estava na casa de Krupp quando os dois tiveram uma relação sem consentimento. A jovem relatou ainda que, apesar de ter consumido bebida alcóolica, não estava vulnerável e pediu para que Bruno parasse com o ato sexual, o que não foi feito. De acordo com a ocorrência, a mulher foi encaminhada para o Instituto Médico Legal (IML).
Já em abril de 2021, foi registrada na 15ª DP (Gávea) uma acusação de estelionato contra o modelo. Em depoimento, a gerente do Hotel Nacional afirmou que ele oferecia diárias mais baratas do que no site do estabelecimento e, para que a compra fosse efetuada, os clientes deveriam transferir o dinheiro para uma conta divulgada pelo modelo. Krupp então realizava o pagamento das reservas com cartões clonados. Ainda segundo a funcionária, o prejuízo foi estimado em R$ 428 mil e ele teria conseguido sair antes do estabelecimento detectar as fraudes.
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