Rio - As mortes na família de São Gonçalo mostraram que acidentes elétricos são fruto de descaso associado à falta de manutenção das concessionárias. Mas não se engane, o Município do Rio também sofre riscos de tragédias iminentes. O DIA percorreu as ruas do Centro do Rio e encontrou postes caindo, fios soltos e tombados, encostando na cabeça dos pedestres.
Na Rua Laura de Araújo, no Estácio, postes com dezenas de fios elétricos que tombavam ou estavam pendentes. O mais grotesco foi um poste elétrico caindo em cima de uma barraca. “Isso é sempre assim, ninguém faz nada”, disse um morador que não quis se identificar.

Na Rua General Caldwel, no Centro, um acidente com um ônibus da linha 324 há quase um mês deixou outro poste inclinado e fios pendurados. “A RioLuz cortou tudo, nos deixou sem energia”, reclama a comerciante Albeniza Vivas. Na Avenida Mem de Sá, no Centro, um homem se arriscava pintando um prédio encostando nos fios elétricos, sem segurança alguma. Na Rua dos Inválidos, o funcionário de uma operadora de telefonia consertava a fiação sem luvas nem capacete.
A Light informou que vai avaliar os casos denunciados pelo DIA e que o poste tombado no Estácio é fruto de vandalismo dos moradores da região. A Light informa ainda que desativará quatro lojas nos municípios do Rio e Nova Iguaçu: Primeiro de Março (Centro), Tijuca, Ilha do Governador e Via Light.
Cabo rompe e destrói família em 5 minutos
O rompimento de um fio de alta-tensão destruiu a família Alcântara em menos de cinco minutos. Foi no começo da noite de domingo, na porta da casa da avó, em São Gonçalo. O pai acabara de colocar o bebê Gabriel na cadeirinha do carro e ficou do lado de fora esperando o outro filho chegar. De repente, sem qualquer sinal anterior, um fio de alta-tensão caiu sobre o automóvel. Apavorado, o irmão adolescente abriu a porta para tentar retirar o bebê. Em vão. Lucas, de 13 anos, recebeu toda a descarga a elétrica e ainda conduziu o choque para o pequeno Gabriel.
Em pânico, o pai, Raphael, se aproximou para socorrer as crianças. A eletricidade não o poupou e ainda levou o avô dos meninos, Adão Moraes, 85 anos, que, desesperado ao ver a esposa correr na direção dos eletrocutados, entrou na frente da mulher e também morreu. Maria Nazaré, aos berros, jogada no chão, implorava por socorro, gritando pelo filho e pelos netos. Maria foi a única sobrevivente da história que ontem comoveu o país.
A Polícia Civil já periciou o local, apreendeu parte da fiação rompida e vai ouvir as testemunhas. O Procon autuou a Ampla, que deverá dar explicações sobre o caso. Nazaré segue estável em tratamento no Hospital das Clínicas, em Niterói. Ela teve as mãos queimadas e foi submetida a uma cirurgia para aplicação de enxerto.

A concessionária Ampla investiga se o desastre ocorreu por causa de um objeto lançado na rede de alta tensão, em outra rua do bairro. Ele teria rompido o fio. Especialistas suspeitam de falha na estrutura da fiação. A vizinha Luciene Matos relatou que o poste, de onde despencou o fio, é recém-instalado e que o eletricista da Ampla teria classificado o procedimento como “complicado”.
Para o físico Alfredo Sotto, é improvável que a rede fosse das mais adequadas. “Uma fiação se soltar é raro. É mais provável que já estivesse comprometida”, afirma. O físico Ronald Chellard explica que o grupo teria se salvado caso deixassem o bebê no carro. “O veículo funciona como uma blindagem eletrostática; não podemos tocar na lataria nem em quem está recebendo o choque”, diz Ronald.